terça-feira, 10 de outubro de 2017

Idiomas do cenário ATMA


     Às vezes vem aquela dúvida: o que exatamente os personagens de RPG falam? O que é "comum"? Uma língua que não existe, inventada como o élfico de Tolkien (conlang)?
 
    Sabe, nós tivemos essa dúvida quando redesenvolvemos o cenário. Uma língua básica é importante para evitar incomodações na mesa, outras línguas são importantes para gerar obstáculos e confusões engraçadas, sotaques estranhos e conversas secretas.

    Mas não gostavámos da ideia de criar uma língua, nunca foi algo que consideramos interessante. Certo dia, o cenário Tormenta deu a inspiração. Lá, o inglês é um dialeto anão, uma desculpa para termos um "Bloodaxe" ou "Brankson" sem parecer estranho. E nos ocorreu de, em vez de inventar línguas, usar as que existem. Elas já estão total e naturalmente desenvolvidas, e jogadores podem sabê-las ou aprendê-las para incrementar o seu personagem. Por exemplo, um cara que saiba um pouco de alemão pode colocar termos e expressões que façam as falas do personagem mais interessantes e dramáticas, outro cara pode aprender algumas pronúncias no youtube e disparar latim gratuito só para o personagem soar mais culto. Quase toda a interação "in-/off-game" é falada, qualquer mesa interessada teria muitas oportunidades de usar isso.

    Aí surgiram outras questões: quais línguas? Quem as fala? Decidimos brincar com os estereótipos. Em fantasia medieval, elfos e sua cultura costumam influenciar os povos humanos, soarem arrogantes e sofisticados, terem vozes melodiosas e não serem valorizados como uma raça combativa; franceses e sua cultura influenciaram toda a Europa e também o Brasil. O francês é visto como prepotente, refinado e romântico. As mulheres francesas são estimadas por serem belas e delgadas, tal qual elfas. E, também sofrem de uma ideia de serem péssimos na guerra. Os dois estereótipos tem vários paralelos (e preconceitos, razões, fundamentos reais e exageros*), então o idioma "élfico" de Atma é o francês.

    E o resto seguiu essa linha. O extinto Império Amaranto falava latim. Seus sucessores falam português (império do norte) e italiano (Lega Groura), descendentes do latim na vida real. Thorakitai falam grego, shardokan e Kurskianos falam russo, Khejal fala tanto árabe quanto hindu, Kosinbia fala suaíle, Hommona fala chinês, Nanpuu fala japonês, Kavaja fala castelhano, Komatai falam basco, Technogestalt fala alemão, e Abalm fala inglês. Nós cuidamos para que o desenvolvimento linguístico em Atma fosse parecido com a vida real, embora aposto que deve parecer mal-feito para um linguista. Por exemplo, o inglês nasceu da mistura de línguas germânicas e latinas, além de pegar todo tipo de palavra emprestada aqui e ali. Portanto, Abalm fala inglês por ter sido um lugar onde refugiados de Technogestalt (germânico) encontraram imigrantes de Sarba (latino). E por ser o centro comercial mundial, acaba por absorver um pouco de todo idioma, e é tão comum no mundo de Ghara quanto na vida real.

    Como o cenário é caseiro, traduções que nós fizemos foram limitadas e toscas, usando a internet para buscar expressões, nomes etc. E fizemos muitas adaptações. Por exemplo, em suaíle "avó" é "bibi wa", e "África" é "Kusini". Assim, transformamos "Kusini bibi wa" em "Kosinbia", uma maneira de homenagear o continente; seja qual for a pátria-mãe de alguém, todos viemos de lá afinal, e é mais uma chance de fazer fantasia fora do padrão, para a qual usamos o império do norte.

*Existe algo chamado "Síndrome de Paris", um conjunto de sintomas psiquiátricos causados por choque cultural. Uma das razões seria a contradição entre o que é idealizado pelo turista e a realidade. Fantasias são uma coisa impressionante, não acha?

2 comentários:

  1. Acho fantástica essa ideia. Tanto que também usei em meu cenário, mas ainda não o esmiucei.

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