Como que vocês vão? Eu decidi reunir e mostrar
algumas das criaturas encontradas em folclores e mitologias da
América do Sul. A lista tem 92 seres, então eu a dividi em três
partes. Também excluí monstros brasileiros populares como o Boto e
o Curupira, mas ainda assim a lista tem diversas criaturas
brasileiras.
(Não estou incluindo imagens dessas criaturas por
duas razões: direitos autorais e também porque algumas são tão
obscuras que não encontrei imagens.)
63) Okpe – Monstro do folclore indígena
Tehuelche. Imagine um porco gigante feito de pedra. Ele não tem
pontos fracos. O Okpe devora crianças, usando carne assada como isca
e carregando-as em uma engenhoca no dorso selva adentro.
64) Omar – Espirito aquático com o corpo de um
caranguejo e peixes gigante. Os Omars gostam de comer madeira podre,
mas afundam barcos quando os confundem com troncos flutuantes. A
lenda conta que um “Peaiman” (xamã ou feiticeiro) cuidadosamente
enrolou dois pedaços da madeira usada para acender fogueiras, para
que não ficassem úmidos. Então ele se deixou ser engolido por um
Omar. O Peaiman achou muita madeira dentro da barriga do monstro, e
pôs fogo nela. O Omar sentiu muita dor, subiu à superfície,
arrotou o xamã e morreu. Do folclore das Guianas.
65) Onça Celeste – Mitologia Tupi-Guarani.
Acredita-se que os eclipses são causados por uma onça de coloração
azulada comendo o sol e a lua. Quando o mundo acabar, ela descerá ao
mundo e devorará as pessoas. Até lá, ela descansa abaixo da rede
de dormir de Nhanderuvuçu, o deus supremo.
66) Oroli – Uma serpente gigante das tradições
das tribos Arawak, Carib e Akawais. Ela se estende entre árvores
como se fosse uma ponte viva. O monstro faz com que pedaços da sua
carne caiam no chão, onde eles se tornam pedaços de madeira seca,
boa para fogueiras. Quem passa por baixo da Oroli, catando a madeira,
é atacado. Um bando de guerreiros matou a Oroli com zarabatanas e
flechas envenenadas. Em seguida incendiaram a carcaça. Das cinzas
cresceram plantas, e destas eles colheram muitas “binas”
(fetiches ou amuletos). As tais binas podem ser usadas para atrair
todo tipo de animal, trovão, chuva e até relâmpagos.
67) Peuchen – Mitologia Mapuche. A maioria das
descrições concorda que o Peuchen se parece com uma enorme serpente
voadora que produz assovios estranhos, e que o seu olhar pode
paralisar a presa para que ela lhe sugue o sangue.
68) Peuquen – Folclore chileno. Gnomos que se
vestem em folhas da árvore “Gevuina avellana”. Eles também usam
um chapéu feita da casca e um machado cuja empunhadura é da madeira
desta árvore. É perigoso encontrar um Peuquen, pois quem o faz tem
a sua cabeça virada pelo resto da vida. Estes gnomos gostam de ter
relações com mulheres humanas. Crianças nascidas destas relações
tem a pele parecida com a casca da árvore avellana.
69) Pishtaco – Folclore andino. Não me ficou
claro se é um monstro parecido com um homem, ou simplesmente um
homem maligno. Seja como for, quase sempre é um estranho e também
um homem branco, que busca indígenas para matá-los, coletar a sua
gordura e vender a sua carne. Parece haver uma relação com uma
crença da época da conquista espanhola, de que certos espanhóis
teriam usado a gordura extraída de índios para lubrificar as suas
armas de fogo e canhões. Pishtaco é um nome que deriva da palavra
quechua “pishtay”, que significa “decapitar, cortar a garganta,
cortar em pedaços”.
70) Pururauca – Lenda Inca. Durante uma grande
batalha decisiva, os Incas estavam em menor número e encaravam um
inimigo terrível. Eles pediram a ajuda da sua maior divindade. O
deus Viracocha respondeu, transformando pedras em soldados que
ajudaram os Incas a defender a sua cidade.
71) Roraima – Mitologia indígena venezuelana.
Esse é o nome da mãe de Makunaíma e Pia, que são heróis ou
deuses que matam monstros. Eles deixam a mãe deles no topo do tepui
(que significa “casa dos deuses”), que devido a isso também se
chama Roraima. Isso faz ela chorar, e as suas lágrimas são tão
numerosas que criam cataratas nos flancos do monte. Existem lendas
que falam que os montes Roraima e Kukenam tem mares cheios de peixes
e golfinhos, mas águias brancas gigantes impedem que as pessoas
escalem estas montanhas. Uma outra lenda sobre o monte Roraima conta
que ele é guardado por um jiboia tão imensa que ela poderia esmagar
cem pessoas de uma vez.
72) Romŝiwamnari – Mitologia do povo Xerênte.
Estes são demônios que habitam florestas e cavernas. Eles se
parecem com grandes pássaros com pequenas asas de morcegos. Os seus
bicos são como tesouras. Os Romŝiwamnari não apenas atacam os
vivos, eles também devoram as almas dos mortos. Um xamã poderoso
pode matá-los no reino dos mortos.
73) Sachamama (“Mãe da Floresta”) – Uma das
três serpentes matriarcas da Amazônia peruana. Ela tem quarenta
metros de comprimento e dois de largura, uma cabeça tal qual uma
iguana e escamas semelhantes a placas de pedra. Há um bosque inteiro
no seu dorso, com árvores, fungos, ervas etc. Ela não precisa se
mexer porque consegue hipnotizar qualquer animal que passe por perto,
para que o mesmo venha até ela e seja comido. Sachamama consegue
invocar tempestades, chuva e relâmpagos. Ela também causa febres e
dores de cabeça em quem invade os seus domínios. Muitas das plantas
nas suas costas tem usos medicinais. Tem até uma “árvore do
trovão”, cuja casca, caso engolida, permite que uma pessoa possa
invoca e parar tempestades.
74) Sapo Fuerzo – Folclore chileno. Um sapo com
um casco semelhante ao de uma tartaruga. Ele também brilha no
escuro, tal qual um vaga-lume. O nome é devido aos seus poderes
sobrenaturais e resistência. O Sapo Fuerzo pode atrair ou repelir
qualquer coisa através do poder do seu olhar. Ele também consegue
regenerar qualquer ferimento. A única maneira de matá-lo é
reduzindo-o a cinzas por completo.
75) Enxós-de-Pedra – Uma tribo de pessoas
petrificadas. Eles estão assim porque foram punidas por alguém, ou
algo. Outras tribos vem até eles porque os Enxós, como o nome
indica, são uma ótima matéria-prima para se fazer instrumentos
como enxós (usado por carpinteiros para desbastar a madeira) e
machados. Folclore da Amazônia.
76) Supay – Esse é o nome tando do deus da
morte Inca, quanto de uma raça de demônios que o serve. Supays são
associados aos rituais dos mineiros, talvez porque o deus em questão
era o governante de Ukhu Pacha, o submundo da mitologia Inca. Após a
conquista espanhola, ele foi associado ao Diabo.
77) Taquatu – Folclore da Terra do Fogo. Taquatu
é um gigante invisível com uma canoa voadora igualmente invisível.
Ele sequestra pessoas e as leva a lugares dos quais ninguém retorna.
É dito que este monstro tem uma caverna cheia de restos humanos no
topo de uma montanha que não pode ser escalada.
78) Teju Jagua – O primeiro filho de Tau e
Kerana, um dos sete mosntros lendários da mitologia Guarani. Um
lagarto imenso com sete cabeças de cachorro e olhos que disparam
fogo. Algumas versões do mito dizem que ele tem apenas uma cabeça.
Mas todas concordam que a(s) cabeça(s) faz com que tenha
dificuldades em se mover. A sua aparência é a mais horrível entre
todos os seus irmãos. Apesar da ferocidade, ele come frutas e o mel
trazido por seu irmão Yasy Yateré. Considerado o senhor das
cavernas e protetor das frutas. Também dizem que ele protege
tesouros enterrados. A sua pele é brilhante devido a se rolar no
ouro e pedras preciosas de Itapé.
79) Tigtitig – Folclore das Guianas. Este é um
pássaro gigante que tenta devorar as almas dos recém-mortos quando
elas voam na direção de uma terra paradisíaca ao oeste. A alma
deve então lutar com o pássaro para evitar isto. Este pássaro
também pode causar deformidades em crianças recém-nascidas. Uma
lenda parecida fala de almas indo a certos lagos onde são comidas
por cobras monstruosas que então as levam até um paraíso de dança
e bebida. Fico agora imaginando ambas as criaturas lutando
pelas almas dos mortos.
80) Trauco – Folclore do arquipélago Chiloé.
Um goblin que vive nas profundezas da floresta. Ele tem um rosto feio
e pernas sem pés. Também possui um magnetismo que atrai mulheres
jovens e de meia idade. Apesar disto, ele tem uma esposa, a maliciosa
e feia Fiura. O Trauco carrega consigo uma machadinha de pedra que
ele usa para bater em árvores na floresta, um símbolo de sua
potência sexual. Quem for escolhida pelo Trauco vai até ele, é
impossível resistir, mesmo se estiver dormindo. Alguns homens de
Chiloé tem medo do Trauco, pois o seu olhar pode matá-los. Esta
criatura é usada para explicar uma gravidez súbita ou indesejada,
especialmente quando se trata de mulheres solteiras.
81) Trempulcahue – Mitologia Mapuche. Quatro
anciãs se transformam em baleias a cada anoitecer, levando as almas
dos mortos para “Ngill chenmaywe”, um lugar de onde as almas
podem viajar até o seu local de descanso. As Trempulcahue recebiam
pagamento na forma de “llancas”, pedras de turquesa.
82) Uakti – Segundo a lenda do povo Tucano, esta
criatura tinha buracos no corpo que produziam música quando ele
corria ou o vento passava através dele. A melodia seduziu as
mulheres da tribo, então os homens queimaram e enterraram o corpo de
Uakti. O mito conta que, do local onde ele foi enterrado, cresceram
as palmeiras que os Tucanos usam para fazer flautas. As mulheres do
povo Tucano não podem tocar nestas flautas, no entanto.
83) Warracabas – Também chamadas Waracrabas e
Y'agamisheri, fazem parte do folclore das Guianas. Onças pequenas e
ferozes que caçam em grupos de até cem animais. Diferente de onças
comuns, não temem o fogo, embora tenham medo do latir de cachorros.
Também tem aversão à água. Elas podem variar em tamanho e cor. É
dito que vivem nas montanhas, indo às terras baixas quando famintas.
84) Water-mámmas – Mitologia da tribo Warrau.
Um tipo de espírito que pode assumir múltiplas formas. No rio
Demerara, mámmas assumem a forma de imensas araras rubras que
emergem da água e carregam canoas inteiras consigo para dentro
d'água, ocupantes dos barcos inclusos.
85) Onça d'Água – Mitologia Guarani. Apesar do
nome, esta é uma criatura quadrúpede semelhante a um “macaco
demoníaco”, com o pelo tendo a mesma pintura da onça. O monstro
vive submerso, usando um imenso rabo para enroscar as pernas de
pessoas que passam por perto e afogá-las. As mesmas não são
devoradas, então parece que a Onça d'Água faz isto só por
maldade.
86) Yaguareté-abá – Mitologia Guarani. Também
chamado Capiango, é um xamã que se transforma em uma onça-pintada
gigante. Vai então comer gado e cavalos, animais trazidos pelos
colonizadores que invadem a sua terra. Também come carne humana.
Para matar um Capiango, deve-se usar balas ou lâminas abençoadas
por um sacerdote. Após a morte, a cabeça deve ser decapitada.
Assim, a criatura se torna um humano sem cabeça novamente. Outra
versão da lenda conta que o Capiango é uma onça possuída pela
alma de um homem bom e justo que foi assassinado, podendo assim caçar
a pessoa que o matou. Nesta forma animal, é tão inteligente quanto
foi em vida, mas incapaz de falar.
87) Yaguarón – Um peixe verde gigante com
dentes-de-sabre. Ele consegue escavar túneis sob as margens dos
rios, causando deslizamentos que fazem pessoas e animais caírem na
água. O Yaguarón então devora os pulmões deles.
88) Yacumama (“Mãe das Águas”) – Folclore
do Equador e do Peru. Tem a forma de uma jibóia enorme, com escamas
azuis e olhos brilhantes como os faróis de um barco. Ela consegue
paralisar a sua presa apenas com o olhar. Quando está feliz, abençoa
as pessoas com muita chuva e abundância de peixes. Quando fica
furiosa, invoca tempestades, névoas e redemoinhos, além de usar os
seus cinquenta metros de comprimento de maneira destrutiva. Yacumama
também é capaz de engolir todos os peixes para que pescadores não
consigam pegá-los, ou voar aos céus e causar chuvas torrenciais que
arruinam plantações. Oferendas de comida e aguardente podem
acalmá-la.
89) Yayá – Uma onça que se transforma em uma
mulher. Ela vive em uma grande caverna chamada Olho d'Água. A sua
presença é percebida devido ao seu canto e os tornados que surgem
na região. Ela não aceita a presença de estrangeiros, deixando
isto claro com um assovio que todos podem ouvir, podendo então
abandonar a região ou atacar o(s) estrangeiro(s) em questão. Apenas
xamãs podem acalmá-la. Ela também ataca gado. Líderes locais
buscam o seu conselho em assuntos pessoais e comunitários. Yayá
também pode dizer coisas sobre o passado, presente e futuro.
Qualquer caverna na qual ela vive ou viveu se torna sagrada.
90) Yerupoho – Essas criaturas da mitologia
Waujá tem um folclore complexo, que vou tentar resumir.
Em tempos primordiais, havia apenas escuridão.
Existiam dois tipos de seres: os Yerupoho e humanos, estes últimos
escondidos dentro de cupinzeiros. Em um certo dia, os Yerupoho
descobriram que os heróis humanos despertariam o sol. Essa mudança
súbita assustou-os, e eles passaram a criar “armaduras”: roupas,
máscaras e pinturas corporais que os protegeriam do sol. As
“armaduras” eram baseadas em muitas coisas, como plantas,
utensílios, animais etc. Quando o Yerupoho vestia a “armadura”,
ele assumia a identidade caracterizada pela mesma, tornando-se um
Apapaatai. Essa nova categoria de criatura se tornava protetora e/ou
dona das coisas usadas nas suas respectivas armaduras. por exemplo,
um Apapaatai cuja “armadura” incluía uma máscara de urubu se
tornava um monstro tal qual um abutre humanoide de duas cabeças.
Outros exemplos de Apapaatai são: cobras-barcos, peixes-flauta,
araras aquáticas, onças celestiais etc. Inúmeras misturas e
variações são possíveis. Os monstros são muito inteligentes,
perigosos, criativos, maliciosos e muitos deles sabem usar magia.
Além disso, um único Yerupoho pode usar muitas “armaduras”
diferentes, adquirindo traços e poderes de acordo com o que está
vestindo.
Eu escrevi acima que um certo Yerupoho é o dono
e/ou protetor da coisa da qual a sua “armadura(s)” se baseia(m).
Isso significa que, por exemplo, usar um certo tipo de madeira para
um bote ou comer uma espécie específica de caranguejo resulta no
humano invadindo o domínio de um Yerupoho. Quando isso acontece, o
último causa doenças mágicas no invasor. Ou talvez tente
simplesmente comer a alma do respectivo humano. As consequências
práticas são a existência de muitos tabus sobre o que se pode
comer ou usar da selva. O xamã é responsável por curar a doença
ou salvar a alma da vítima.
Embora os Yerupoho estejam presentes em todo
lugar, só podem ser vistos em sonhos, transes, quando alguém está
doente ou morrendo. Máscaras, desenhos rituais e flautas são usadas
para que se possa vê-los fora dessas ocasiões, porque, quando usam
tais artifícios, os humanos se tornam algo similar aos Apapaatai.
xamãs são capazes de convencer Apapaatai a obedecê-los ou
servi-los. Isso requer quje o xamã fique doente de propósito,
resistindo à doença mágica e incorporando-a. Ter servos Apapaatai
traz uma série de poderes, por exemplo divinação. Esse processo de
ficar doente e absorver a doença parece ser necessário para que uma
pessoa torne-se um xamã. Remover doenças ou resgatar almas requer o
uso de canções secretas que apenas os xamãs conhecem.
Peço desculpas se isso é meio confuso, mas
tentei resumir o que é uma cosmologia única. Uma interpretação
pessoal, para propósitos de rpg, é que Yerupoho são espíritos
feitos de escuridão que foram forçados a criar corpos físicos
(talvez construtos feitos de materiais orgânicos/naturais como
folhas, ossos e argila?), os ditos Apapaatai, para que os Yerupoho
não fossem destruídos pelo sol. E eles disputam com humanos o
controle sobre certas plantas, animais e objetos que usam como
matéria-prima para os seus corpos, criando um conflito eterno. Os
xamãs, além de defenderem os humanos, poderiam ser vistos como
embaixadores sobrenaturais neste contexto.
91) Xiriminja – Mitologia do povo Waimiri
Atroari. São homens-peixe, mas aprece que as únicas características
que os distinguem dos humanos são as membranas entre os dedos. Vivem
no fundo dos rios e ensinaram os Waimiri Atroari como fazer sexo e se
casar, tecer cestas, cantar, dançar e como plantar.
92) Zaori – Folclore brasileiro. Uma pessoa
abençoada. Zaoris se parecem com pessoas comuns, exceto que os seus
olhos brilham. Eles podem ver através de pedras, terra e até
montanhas inteiras, podendo localizar tesouros escondidos. Prata e
ouro, cristais, armas raras, nada escapa do olhar deles. Mas tem um
porém: um Zaori não pode usar o seu poder em benefício próprio,
por exemplo ficando rico, pode apenas beneficiar outras pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário