sábado, 30 de junho de 2018

Viellvier

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/87/VROOM_Hendrick_Cornelisz_The_Arrival_at_Vlissingen_of_the_Elector_Palatinate_Frederick_V.jpg/1024px-VROOM_Hendrick_Cornelisz_The_Arrival_at_Vlissingen_of_the_Elector_Palatinate_Frederick_V.jpg

  Primeira Lei: a velha Rema possui a última palavra em qualquer questão jurídica, política e social de Vieelvier, podendo alterar, anular e acrescentar sobre decisões anteriores. Precedente estabelecido a partir do incidente de 1247, a Madrugada do Tsunami Invisível.
-Consituição municipal de Viellvier.

Cidade

Conhecida como "a cidade dos negócios e dos prazeres", esta enorme cidade portuária de trezentos mil habitantes tem uma origem milenar. Quando os ancestrais dos feidarashi fugiram de Numéria, cruzaram o Golfo de Nyxcilla em barcos feitos de vagens gigantes, repletos de sementes. As mesmas foram usadas para gerar mangues gigantes altos e largos como cidadelas, cujas raízes serviram de fundação para cidades inteiras. Apenas uma pequena parte desses elfos conseguiu criar uma colônia. Muitos nunca conseguiram chegar ao seu destino, e podem haver dezenas, talvez centenas de sementes de mangue gigante e tesouros feéricos nos fundos dos mares.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5e/Mangrove_auf_Cayo_Levisa%2C_Kuba.jpg/1024px-Mangrove_auf_Cayo_Levisa%2C_Kuba.jpgViellvier é o mangue feidarash mais antigo e titânico, talvez o primeiro. A árvore absorve mana oceânico há tantos séculos que se tornou o maior porto comercial e militar do Império do Norte. A planta é tão querida e mágica que possui um avatar conhecido por toda a população: a serva celestial de Corallin, a anciã Rema. Essa velhinha feidarashi de aspecto modesto e que cheira a orquídeas é a dríade mais velha do continente e talvez do mundo. Mesmo anões de barba branca pensam nela como uma avó.

Vista de cima, a cidade fica no encontro do rio Undina com o Golfo de Nyxcilla, um estuário em forma de meia-lua chamado Demilune. Uma extensa rede de raízes se esparramam do mangue gigante como uma teia de aranha, formando centenas de pontes entre ilhotas, servindo de ruas, incontáveis palafitas para construções diversas e as dúzias de embarcadouros do porto. Além das raízes usadas pela cidade, existem um labirinto de raízes velhas e ocas, grandes o bastante para a passagem de uma carroça cheia. Algumas destes túneis vegetais servem como estradas e pontes que cruzam os pântanos ao redor de Viellvier e levam até a cidade em si.

O tronco do mangue não chega até o chão, mas divide-se em dezenas de raízes de suporte. As mesmas foram cultivadas para se armarem como um domo, cujos vãos foram preenchidos por vitrais que retraram detalhes da história local, como as Cinco Guerras do Sal, a Primavera das Dores e a Vinda dos Dragões. O mercado central fica sob o domo, assim como o maior viveiro dos pirilampos-gigantes locais.

As Represas Viellvierinas são um sistema de diques, canais e reservatórios que acumulam água na maré alta. Quando se esvaziam na maré baixa, inúmeras redes e armadilhas prendem toneladas de peixes, camarões, caranguejos e outros frutos do mar. Grupos de golfinhos são recompensados por ajudarem a direcionar muitos cardumes e afugentar predadores como saltadores-do-lodo-atrozes. Boa parte da população é empregada nesse sistema de pesca intensiva, que também alimenta Viellvier diariamente. O mesmo sistema também é usado para provocar enchentes que lavam a sujeira das ruas principais, uma vez por semana. É tão preciso que pode-se definir se a quantidade de água chegaria apenas aos joelhos, como é o normal, ou ficaria na altura dos ombros, uma medida contra invasores. Meia dúzia de raízes do mangue servem como aquedutos e abastecem a cidade com água potável.

A madeira do mangue gigante naturalmente absorve sal da água, que deposita em partes ocas, daonde esse sal é exportado império adentro. Outra propriedade especial da madeira do mangue é que absorve minerais diversos, tornando-se dura como pedra. Quem tenta cortar uma parte acaba apenas desgastando o seu machado.

De noite as larvas de pirilampo-gigante deslizam em fila seda abaixo, indo do mangue para as alcovas. Em noites de ventania parecem pêndulos brilhantes. A luminosidade noturna de viellvier elimina a necessidade de faróis para sinalizar navios. A população chega a desdenhar de quem usa fogo para iluminação, considerando as larvas e pirilampos-gigantes adultos muito mais seguros e amigáveis.

Sendo um cidade tão grande, existem múltiplos deuses para cada deus do panteão, mas os templos para Nyxcilla se sobressaem, especialmente a Concha Divina, um templo no interior de uma concha azul gigantesca e semi submersa, com mais de cinco andares de altura e ainda mais larga.

Negócios


https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/58/Vista_do_Tejo_com_a_Torre_de_Bel%C3%A9m_-_Escola_Portuguesa_do_s%C3%A9c._XIX.png
Um dos bastiões viellvierinos. Este hospeda o próprio barão.
Embora não pareça, Viellvier é um baronato, encarregado de produzir navios para o Império do Norte: desde barchas e barinéis até carracas e galeões. Os múltiplos estaleiros estabelecidos nas praias locais conseguem produzir mais de uma galé por dia, vendendo-as até para Kosinbia. Além disso, barcos vegetais élficos crescidos do mangue gigante e até navios de concreto anões são fabricados aqui. Em vista disso e das taxas sobre o intenso comércio, o barão atual, o feidarash Auphen Guilléri, é um dos homens mais ricos do império, dono de uma frota particular com dezenas de navios. A maior parte da frota marítima imperial é criada e mantida aqui. Uma flotilha de defesa está sempre pronta para patrulhar e defender o porto e as águas próximas. A cidade mantém um arsenal naval, incluindo armazéns lotados de madeira e pólvora, diversas fundições de canhões e forjas que fabricam espadas do tipo caranguejo. Finalmente, diversos bastiões bem guarnecidos estão preparados dia e noite.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/62/Hendrik_Cornelisz._Vroom_-_The_Return_in_Amsterdam_of_the_Second_Expedition_to_the_East_Indies_-_WGA25409.jpg/640px-Hendrik_Cornelisz._Vroom_-_The_Return_in_Amsterdam_of_the_Second_Expedition_to_the_East_Indies_-_WGA25409.jpg


Dezenas de milhares de canoas, jangadas e navios passam aqui todos os dias, vindos dos arredores ou até de outro continente. Piratas esbarram os ombros em pescadores, aldeões negociam com cortesãs e fiscais inspecionam todo tipo de carga: tecidos, grãos, marfim, escravos, pistolas, mapas, poções, especiarias e muito mais. O imenso volume e variedade de mercadorias também gera um mercado negro igualmente diversificado, apesar da constante vigilância dos fiscais da guilda de estivadores. Todo tipo de coisa "encontrada" aparece por aqui, e alguns comerciantes chegam a financiar expedições piratas para adquirir objetos de seus concorrentes. Outro item valioso local são os incontáveis rumores que podem incluir até as fofocas de rainhas do outro lado do mundo. Se você não encontra o que precisa ou deseja em Viellvier, tente de novo.


A cidade é sede de muitas companhias imperiais dedicadas ao comércio com terras distantes, assim como exploração e colonização de novas terras. Essas organizações possuem grande autonomia, frotas e até milícias privadas, estão sempre procurando investidores e regularmente vendem ações para quem estiver interessado.  Algumas das companhias imperiais são: Companhia de Aventureiros Mercantes de Viellvier; Companhia Açucareira de Umókaong; Irmandade de Aventureiros para a Descoberta e Exploração de Regiões, Ilhas e Lugares Desconhecidos, melhor conhecida como Mercantes da Aventura; Fraternidade dos Cartógrafos e Cronistas; Guilda dos Mensageiros Alados; Confraria de Comerciantes de Histórias. Todo ano, surgem novas companhias que podem estar substituindo as que foram à falência. Aventureiros com dinheiro frequentemente investem ou até criam companhias para adquirir a autonomia para governar territórios em terras distantes, criando minas, capitanias, colônias, novos mangues gigantes, fortes e, às vezes, enclaves rebeldes. Muitas ilhas no Golfo de Nyxcilla já estão sendo exploradas dessa maneira, mas quase ninguém ousou clamar direitos sobre as ilhas mais próximas das terras feéricas de Numéria.

Já para quem precisa de dinheiro e investidores, aconselha-se negociar com os sacerdotes locais de Palpaleos, sempre dispostos a financiar expedições que agradem a seu deus. O vistoso templo local do deus dos viajantes e do comércio conta com um imenso cofre sagrado, do qual saem e entram fortunas diariamente. Outra fonte de financiamento é o barão local, um homem rico o suficiente que pode arcar com as despesas de construir e aparelhar um navio sem dificuldades. Auphen Guilléri têm uma obsessão em encontrar e clamar ilhas no Golfo de Nyxcilla, em especial as "ilhas movediças", que parecem mudar de lugar com frequência. O fenômeno se torna mais comum conforme alguém se aproxima de Numéria. O barão pensa que é possível dominar e pilotar uma dessas ilhas, criando uma fortaleza móvel em alto-mar.


https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/28/Sunset_from_above_Phang-nga.jpg/387px-Sunset_from_above_Phang-nga.jpgOs arredores da cidade são desolados e perigosos. Além de saltadores-do-lodo-atrozes, jacarés, capim-foice, enguias elétricas, onças, cipó-forca e piranhas, esses manguezais escondem muitas comunidades de escravos fugitivos e criminosos que também atuam como piratas. Chamados Écorcheurs*, eles criam aldeias fortificadas, alcançáveis apenas por caminhos disfarçados, cheios de armadilhas, trilhas submersas na maré alta e bancos de areia movediça. Embora a cidade em si seja segura, navios indo e vindo de Viellvier podem ser atacados por enormes frotas de canoas na calada da noite, capazes de fugir para águas rasas que fariam navios imperiais encalharem. Tesouros roubados são escondidos no fundo de rios para servirem em barganhas caso o responsável seja capturado, ou usados para atrair mais vítimas. Curiosamente, eles não se interessam muito por ouro e prata. Gostam mais de remédios, ferro e aço, especialmente ferramentas como anzóis e martelos, ou armas como espadas e pontas de flecha. O seu raciocínio é que tais itens são mais úteis, além de serem difíceis de obter dentro dos pântanos. Alguns nem têm noção de como um diamante pode ser valioso, pois é inútil e difícil de vender. Se essas comunidades têm um líder, ele é o umók Drosaico, o pirata local de mais sucesso, capaz de esconder navios inteiros dentro dos pântanos de alguma forma. Diversos grupos de aventureiros já tentaram clamar a recompensa de dez mil peças de ouro.

*Literalmente "esfoladores", porque levam tudo o que podem das vítimas, até as roupas. 

Outra tripulação infame é a Fraternidade dos Moscas d'Água, numerosos goblins covardes que atacam os seus alvos apenas após muita espionagem, avaliações cuidadosas e planejamentos minuciosos que visam minimizar os riscos. As suas "bandeiras" são cabeças de aliados caídos em combate penduradas no alto dos mastros. Eles usam carrancas encantadas que exalam névoa para acobertar os seus ataques. O grupo também possui uma constituição escrita que delineia os papéis, direitos e deveres de seus membros, baseada nos ideais de igualdade e liberdade.

Djong comparada a um galeão nortenho.
Nos últimos anos, umóks vêm habitando as águas próximas, especialmente o Distrito Afogado d'Ys, uma parte da cidade submersa por um maremoto séculos atrás, antes da fundação do Império do Norte. A maioria são apenas imigrantes do arquipélago umók querendo construir uma vida em terras novas e interessantes. Alguns constróem cortiços de coral e pedra no fundo do mar, cuidando de fazendas de algas e criações de lagostas gigantes. Outros exploram as ruínas submersas, encontrando artefatos élficos antigos. Vários umóks também se especializaram em resgatar coisas perdidas nas águas locais, sejam anéis, cargas caídas ou canhões. Muitos buscam passagem ou trabalho em embarcações destinadas a lugares distantes e novos. O mais notório desses é Isala, que fez fortuna vendendo açucar para o império, e agora encomendou uma embarcação chamada Djong, capaz de carregar mais de dois mil tonéis de carga e ainda portar mais de quarenta canhões. Ela não faz segredo de seu propósito: dar a volta no mundo enquanto comercializa produtos exóticos. As bocas alheias sussuram que ela também quer atacar povos bárbaros Ghara afora. Infelizmente, Isala não têm como terminar de pagar pelo navio, e busca parceiros investidores que também gostem de aventuras longas em alto-mar.


Além de piratas, sobram corsários em Viellvier. Toda vez que alguma nova carta de corso é emitida, vai a leilão. Todo tipo de aventureiro, comerciante, ex-oficiais imperiais e às vezes grandes grupos juntando dinheiro, vão disputar essas licenças para capturar navios e tesouros em nome do Império do Norte. E alvos não faltam: sempre há algum conflito com este ou aquele sultanato khejali; alguns vão atrás de nações neutras como Abalm, o que costuma causar incidentes diplomáticos; outros viram caçadores de piratas, trazendo justiça oceano afora. O corsário mais antigo e famoso é Dom Leballe “je ne regrette rien” Armagnac, capitão da nau Coup de Foudre, distinguível pela carranca chifruda. Um feidarash esguio com dois metros de altura e tranças loiras terminando em moedas gastas, tilintando cada vez que ele coça as sereias tatuadas nas bochechas. Com duzentos anos de experiência em manter um barco inteiro enquanto estraga os dos outros, Leballe vem tentando organizar uma armada corsária: reunindo embarcações goblinóides, nanpuunianas, kosinbianas, khejali, umók e nortenhas, ele deseja pilhar um palácio marítimo draconiano, embarcações enormes tão sobrecarregadas com tesouros que as bocas alheias dizem que ouro e prata são usados como lastro.


A taverna flutuante favorita dos maus elementos é a balsa Antro de Corvassos, onde o anão de mesmo nome tem centenas de baldes de bebida fechados, alguns parados ali há anos. As tampas tem palavras ou desenhos que indicam os ingredientes e temperos ali dentro: por exemplo, onde tem escrito "samogon com maçã " você pode achar uma fruta conservada no álcool há tanto tempo que comê-la deixa muitos bêbados. Além disso, tem baldes marcados com "rum e pimentas", "rum e limão", "samogon com uma cobra inteira", "polén de Ka'aari fermentado", "destilado temperado com mindinho de troll" e o sempre popular "?". Corvassos também é um grande intermediário neutro, sabendo arranjar encontros entre indivíduos, organizações e tripulações de todos os tipos, mediante um certo valor.


Prazeres

Na primavera, os vôos de acasalamento geram um espetáculo multiliminar, brilhando sobre noivos vindos de todo o império. O frenesi de cortejos de homens e animais; os inúmeros ritmos e alegrias; explosões de lágrimas e risos; misturas de perfumes e suor; os gritos e dramas em cada esquina; tudo isto é quase alucinante para quem não está acostumado, e há alguma verdade na crença que as pessoas são outras aqui.
-Dom Gofren Terence, cronista da Quinta Legião.

Viellvier é lar para homens e mulheres de "afeição negociável" de todas as categorias, raças, preços e tipos. Um em cada dez habitantes pertence a essa profissão, a maior concentração de cortesãs e cortesãos em todo o continente. Consequentemente, a guilda responsável é bastante influente e rica: os seus membros contam com curandeiros e médicos exclusivos, milícia própria, barcos exclusivos e uma cadeira no conselho municipal. A hierarquia é definida por quantas das "sessenta e quatro artes da satisfação" um membro já aprendeu, incluindo teatro, dança, auto-defesa e poesia. Dona Vernalagnia Allusif, líder da guilda, empata com o próprio barão em termos de influência. Um papel secundário mas não menos importante da guilda é a sua capacidade de espalhar histórias e boatos, sejam verdade ou mentira. E como Viellvier é um entreposto de inúmeras rotas comerciais, tais rumores podem se espalhar como ventos em uma tempestade, sendo igualmente poderosos e capazes de arruinar reputações. Dizem as bocas alheias que em alguns casos, tantas pessoas acreditaram com tanta força em um ou outro rumor que este se tornou realidade, mas isso deve ser apenas outra história, certo? De qualquer maneira, não se esqueça de visitar lugares como o Covil Burlesco e o Madrigal das Carminas.

O Mosteiro de Todas as Deusas fica na copa do mangue, acessível apenas por um guindaste e só aceitando mulheres. A localização permite que as monjas extraíam litros e mais litros de mel das imensas colméias instaladas nos vãos dos galhos. O resultado de suas escaladas e uso paciente de presdigitação é celebrado pela cidade inteira: muitos barris de hidromel descem à cidade em troca de doações modestas. Apesar da contribuição generosa, as mulheres não permitem intrusos e muito menos homens: o último a tentar se infiltrar ainda está marcado com 277 ferrões de abelha. Apenas do pescoço para cima, por alguma razão.





 

Cortesã, mediadora, sacerdotisa de Melúcia e casamenteira, Dona Vernalagnia Allusif é a madame-mor da Guilde des Affections Fuyantes ("Guilda das Afeições Fugazes"). Toda manhã pratica a sua dança, enfrentando saltadores, vestindo apenas lama, pulseiras, tornozeleiras e coxeiras finas e afiadas, armas que chuta em seus alvos com precisão e graça, força e volúpia, uma amostra cruel para quem não pode pagar seu preço.








Cortesãs e cortesãos da guilda são reconhecíveis por suas faixas de musselina vermelha espremidas contra o corpo, desenroláveis pelo valor certo. O tecido é tão fino e leve que o palpitar do peito agita os rendados do tecido. O metal usado nos filigranas das faixas indica o status e preço do indivíduo, em ordem ascendente de cobre, prata e ouro. Outros adereços comuns são tatuagens fluorescentes feitas com faíscas que os pirilampos-gigantes soltam.