quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Petrópole de Tyrintha, capital do ducado Tyr.


     Tyrintha é a fonte de quase toda a pólvora produzida no império do norte. Isto a torna tão valiosa para o império que em 1400 PI ela se tornou a capital de um tipo de ducado nunca antes visto. O senado aceitou que as substanciais áreas subterrâneas contassem para o território minimo que um ducado deve ter. O recém-formado ducado Tyr tem como capital a Petrópole de Tyrintha. Esta fica no tepui Rochedo da Corcunda Quebrada, assim chamado por ser uma colina monolítica de calcário cujo topo foi fendido pela ação da água fluindo da cordilheira montanha acima. Um parapeito fortificado protege a fenda, mas a mesma é visível a um quilômetro de distância, sorvendo a água do rio Nabia por diversas cataratas que se unem cidadela adentro para reconstituir o rio na base do rochedo.

     O duque é o thorakitai Isthmas Ferroso de Tyrintha, Elo Forte da Corrente. O epíteto é por ter transformado a sua cidade no entreposto de praticamente toda a cordilheira, realizando juramentos com múltiplos clãs anãos que raças menos longevas, pacientes e barbudas jamais conseguiriam. E esta foi a parte fácil. Administrar laços de lealdade a mais de quarenta clãs diariamente exibe retórica, política e muitos cabelos brancos.

     Espaços públicos como a câmara são iluminados por centenas de tochas alimentadas por encanamentos que levam a um bolsão de gás. Mas esta inovação é recente: o chão e as paredes da cidade inteira ainda têm marcas de ranhuras e runas em alto-relevo, feitas para serem lidas com as mãos e sentidas nas solas dos pés. Isso permite que alguém possa navegar pelos corredores e câmaras na mais completa escuridão. A milícia local é treinada a lutar no escuro e a duelar com piques.

     As Campainhas são um trio de trabucos cujos contrapesos são sinos gigantescos, produzindo baladas ensurdecedoras a cada disparo. Ding, Dong e Bang estão instalados em um templo de Camulus acima das grades por onde o rio Nabia sai de Tyrintha. Estas armas de guerra são queridas pelos habitantes mesmo em tempos de paz, sendo disparadas durante festivais e para avisar o fechamento e abertura dos portões da cidade.

Lugares

 

     A Tumba dos Gigantes é o nome da câmara antecedendo a petrópole em si, assim chamada pelos gigantes mortos aqui durante a conquista do rochedo. O extermínio completo foi comemorado com troféus na forma de múmias enormes vestidas em armaduras de pedra. Já os habitantes atuais tentam compensar a injustiça que os seus ancestrais cometeram ao massacrar os antigos moradores destas cavernas. O pedágio inclui um pequeno sacrifício às múmias. Além disto, rituais e grandes sacrifícios tentam aliviar a vergonha que os thorakitai sentem pelos atos de seus antepassados, assim como a fúria que as almas dos gigantes ainda possam sentir.

Câmara Travertina

 

     A área principal é uma obra-prima da natureza, da engenharia e da agricultura. Esta caverna foi escavada pela ação do rio Nabia, que some no fim de um desfiladeiro cem quilômetros rio acima e emerge aqui. Balsas com mercadorias vindas tão longe quanto Sclaveni navegam pela escuridão. Times de "gancheiros" as conduzem, usando ganchos de cabo longo em fendas e correntes nas paredes para mover as embarcações. Desembarcam no topo da caverna, em docas talhadas na mesma rocha que forma a represa separando o porto da maior catarata subterrânea conhecida.


Entre um terraço e outro, diversos moinhos geram força para o maquinários das oficinas. Os mecanismos de transmissão são baseados em alavancas de madeira interconectadas, e são tão extensos e complexos que aqueles envolvidos em sua manutenção formam uma guilda própria.

     A piscina em cada terraço funciona como uma fazenda de fungos. Eles crescem em estalagmites semi-submersas, nutridos pela água turva e os detritos orgânicos que ela deposita no fundo. Anãos continuamente cortam com machados os esporocarpos crescendo nas fendas das pedras para alimentar a cidadela. Escuros e linhosos, esses cogumelos ganham um sabor e aparência melhores após serem recheados com carnes e vegetais e irem pro forno. Com os terraços agindo como decantadores e os fungos como filtros, a água no ultimo terraço fica potável. Os cardumes de trutas que sobem por aqui durante a época de reprodução rendem tantas redes cheias que os habitantes comem peixe curado o ano todo.

     Diversos túneis se ramificam da Câmara Travertina, levando a dormitórios, salões comunais, refeitórios, oficinas e salas. Thoratus bem-treinados puxam pequenas carroças em trilhos, carregando pessoas e mercadorias.


Salão de Todos os Clãs

 

     Este é um enorme salão comunal onde os clãs thorakitai resolvem desavenças, negociam acordos e realizam juramentos de ajuda mútua. As paredes são cobertas de escudos com os brasões de todos os clãs reconhecidos pelo império. Cada brasão é feito dos minerais encontrados na colina-mãe do respectivo clã. Alguns espaços vazios onde a rocha nua fica visível representam clãs desonrados, exilados ou simplesmente extintos. Muitas negociações são paralelas à política nortenha, tratando de questões apenas entre anões. Ainda assim, Os resultados raramente divergem dos objetivos imperiais. O senado imperial atual foi moldado a partir desta antiga instituição diplomática.



Oficinas

       Dezenas de câmaras acomodam tornos mecânicos, martelos, moinhos, furadeiras e diversas outras ferramentas. Martelos e bigornas comuns na superfície chegam a ser incomuns aqui, tamanha a infraestrutura e capacidade do maquinário. Muitas madeiras e metais entram para virarem pregos, canhões, talheres, elmos, cimento e muitos outros artesanatos. Técnicas tyrinthinesas para construção e utilização de fornalhas são tão desenvolvidas que existe uma guilda dedicada apenas à produção de fornos para criar metais, vidro, tijolos, cerâmica e até a secagem da cevada para cerveja. Através desta guilda, muitos materiais vitais ao império são produzidos. Certas áreas estão tão permeadas com o cheiro de enxofre e outros produtos que os artesãos adotam uma moda local em que o bigode é cultivado de forma a cobrir as narinas.Que é então besuntado com ervas, especiarias ou óleos para abafar os odores.

     Mas o essencial é a pólvora: morcegos são criados em diversos aquíferos geotermais onde o guano cai na água quente para que os anãos pesquem os cristais de salitre depois. Incomodar ou comer estes animais é um crime grave em Tyrintha. Grandes fornalhas fazem carvão vegetal da madeira que antes servia como a balsa vinda de rio acima. Combinados com o enxofre vindo de lugares como Sangue-da-Terra, fabrica-se a pólvora para os canhões nortenhos e a expansão das minas tyrinthinesas.


Câmara Corallina

     Um jardim dedicado à beleza mineral da deusa Corallin. A batente da entrada é um arco natural de basalto com veios de quartzo vermelho que fluem e se ramificam como veias. Fissuras em ziguezague nas paredes parecem ao mesmo tempo relâmpagos e arco-íris, exibindo veios de cristais que brilham na escuridão. Uma estalactite espiralada no centro desce até se afundar no enorme caldeirão natural de mármore com um centro esburacado pelas gotas d'água. E por todo lado, estalactites e estalagmites que servem de troncos para arbustos de agulhas cristalinas em tons vermelhos e laranjas, azuis e verdes, cristais tão delicados que é proibido tocá-los.

Labirinto Monástico

       Uma área escura e desabitada da petrópole é labiríntica e quieta, morada dos Eremitas Pétreos. Cada um fica no fim de seu túnel escuro onde o olfato capta os odores rochosos e os ouvidos sentem as palpitações do coração. Uma vez por dia, acólitos recolhem baldes de dejetos e deixam uma pasta insossa mas nutritiva e água. Fechados em si mesmos, imersos em úteros de pedra, os eremitas meditam e comungam com o planeta, buscando uma verdade maior que nem eles sabem definir. Alguns vieram por vontade própria, outros foram exilados de seus clãs. É dito dos primeiros que eles aprenderam verdades menores sobre o reino mineral, e dos segundos que eles já sabiam verdades escandalosas do reino mortal. Alguns dos monges estão aqui há tanto tempo que as gotas de calcário dissolvido formaram uma camada de resina mineral cobrindo-os até a cintura. Em um ou dois séculos, estes anões poderão ser nada mais do que estalagmites sagradas.

Subterrâneos

  Doze grandes minas, e muitas minas menores, somam milhares de quilômetros de túneis e cavernas com mais de um quilômetro de profundidade. Daqui sai calcário, zinco, carvão, prata, chumbo, mármore, cobre e mercúrio. Além disso, existem complexos de cavernas não-mapeadas à espera de alguém que compre os direitos de explorar e extrair o que quer que haja nelas. Quando a cidadela tornou-se capital de um ducado, muitos donos de minas ganharam títulos aristocráticos: marqueses, condes e viscondes. Os seus palácios e mansões agora ocupam o topo e interior das colinas nos arredores de Tyrintha. Alguns converteram túneis esgotados em fazendas de fungos suculentos que realizam radiossíntese, mas o ducado ainda importa frotas fluviais inteiras de grãos de seus vizinhos.

     Todos sabem que parte da pólvora produzida em Tyrintha está sendo usada para expandir as minas, mas nem os mineiros parecem saber dizer o quanto. É certo que os thoratus empurram cada vez mais vagões lotados com minério a ser triturado, inclusive de túneis outrora abandonados por não valerem mais a pena. Como ninguém mais consegue fazer uma pólvora boa para explodir rocha e mantê-la seca nas condições úmidas do subterrâneo, os anões envolvidos e as suas técnicas são um segredo valioso. O ducado está inclusive enfrentando pressão no senado de outros feudos interessados em obter informações, clamando que isso é importante demais para ficar nas mãos de um único ducado quando poderia beneficiar minas por todo o império. O senador de Tyrintha se defende dizendo que se o objetivo fosse apenas esse, poderiam muito bem contratar os serviços da guilda de mineração tyrinthana. A resposta é de que isso causaria problemas com as guildas locais e de que também devem-se considerar aplicações militares. Foi neste ponto que o senador de Tyrintha chamou os rivais de "covardes estúpidos", mas os guardas chegaram a tempo de impedir ferimentos graves entre a elite política imperial. Enquanto isso, o duque de Tyrintha está tomando medidas para que continuem falhando em roubar os segredos da mineração explosiva.

     Diversos túneis e sistemas de cavernas mal explorados levam alguns a pensar na possibilidade de colonização subterrânea intensa, caso consigam reproduzir as técnicas de agricultura telúrica de Kurskgrad. Os mais ousados clamam que há um fundo de verdade nas lendas sobre Baetylus, o "útero mineral" de onde anões teriam surgido para lentamente subir à superfície. Existiriam traços arqueológicos como múmias mineralizadas ou potes com restos de besouros translúcidos indicando um labirinto sob o continente ou mesmo o planeta inteiro. Muitos, inclusive anões, consideram isso besteira: se a raça tivesse uma origem tão única, como seria compatível física e mentalmente com humanos, silberines e outros a ponto de gerar prole? Na falta de uma recompensa clara e motivadora, aventureiros tem descido apenas se contratados para mapear túneis ou escoltando estudiosos na busca por algo que justifique uma expansão das "subfronteiras" imperiais.

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