terça-feira, 14 de novembro de 2017

Depoimento de um Nabâtu

    Estrangeiro nortenho do oeste, aprenda sobre nós e evitará novas cicatrizes. Os elfos nabâtu se organizam em tribos, uma para cada oásis feérico que restou da devastação que criou este deserto à sua volta. Cada uma se identifica por seu totem, assim como o totem define os tons de nossa pele. A tribo do cabelo de palmeira é do coco marrom, a tribo da arara de jade um verde reluzente, a tribo do camaleão tímido, quem sabe dizer? E há a tribo do camarão da areia, do mel fervente, do escorpião-chibata, da lacraia-hidra, do cacto cristalino, somos mais numerosos que você imagina.

    Apenas os merecedores poderão ver estas cores, como rivais, familiares e amantes. Para tal, nos cobrimos de tecidos e sais, que por acaso são úteis contra o calor do deserto, tamanha a perspicácia de nossa sorte. Alguns exibidos vestem apenas um roupão e nada mais, e rapidamente se despem em frente a qualquer oponente com meia espada, para fascínio de seus folhetins. Para que possamos ser identificados, respeitados e temidos, usamos nossos cocares sobre véus e capuzes, nos padrões e materiais típicos de cada oásis.

    Lutamos com muitas coisas contra muitas coisas, por isso nossas armas sagradas consistem de cabos ocos, nos quais guardamos pós, especiarias e ossos com propriedades especiais. Destes cabos fazemos cajados, espadas, flechas. Nossos campeões tem direito a carregar diversos destes ingredientes, e aprendem receitas poderosas. Nossos mestres são aqueles que abdicam de tais receitas e sabem preparar ou até improvisar combinações inéditas, mesmo que por acidente.

    As variedades feéricas de raízes, ervas, frutas e especiarias em nossos oásis são muito apreciadas por magos e alquimistas, e pelos paladares entediados dos nossos primos feidralin. Como os khejali patrulham o deserto com tapetes voadores, nossas caravanas se ocultam em miragens. Nossos marimbondos possuem corpo achatado e colorido metálico, pernas laminadas para deslizar pela areia, asas propelidas pelo vento, a grande para velocidade e a menor para agilidade, élitros que acomodam ditas asas em tempestades de areia. Assim conseguem servir como batedores à frente dos demais. Para evitar incidentes, guardas montados em solífugos gigantes vigiam os flancos dos enormes opiliões de carga. Estos últimos são muito importantes pelas ovas laranjas que trazem, bastante nutritivas e suculentas. E as protuberâncias de quartzo nas pernas, que quando se friccionam geram as ilusões estáticas que enganam até o faro dos gnolls que os sultões empregam.

    Todos estes planos e artifícios garantem a segurança de nossos lares, moldados em areia, sal e seiva, quase tão belos quanto um rebento sendo amamentado. Me perdoe, estou com saudades, meu filho já deve ter nascido a esta altura, e o fim da viagem está tão próximo, a primeira que faço sem minha esposa desde que nos conhecemos. Se a sua captura ter sido o fator decisivo que me impediu de acompanhar o parto, prometo que meu filho caçará o seu por minha honra, a dele, e a sua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário