Contemple o amaranto
A crescer nas altas montanhas
Nas próprias pedras e rochas
Em lugares inacessíveis
-Últimas palavras de Amarynthia, posteriormente reinterpretadas como um presságio
Ascensão
Após Idura, um vácuo de poder com proporções continentais surgiu, com centenas de pretendentes ao título de Lorde de Sarba. Províncias inteiras se rebelaram, para então se fragmentarem em exércitos, cidades, vilas. A abundância de autoproclamados lordes e veteranos tornou o conflito incessante. A falta de um sucessor à altura prolongou as guerras, todos familiarizados com as batalhas de Idura, mas incapazes de replicar seu gênio, em especial sua capacidade de tratar diversas raças igualmente. Cada lorde voltou a usar as especialidades de sua raça, elfos com flechas, anões com machados, humanos com lanças.
Muitas colônias comerciais haviam surgido na expansão do domínio iduriano, portos seguros nas margens do Rio de Fogo, prosperavam rapidamente com escalas inéditas de comércio entre toda Sarba. A necessidade de autossuficiência e domínio sobre uma rota tão valiosa impeliu as colônias a lutarem entre si quase imediatamente. Em sua maioria humanos, empunhavam lanças, com ocasionais escravos arqueiros e mercenários bárbaros em papéis secundários. Falange moía falange. O que foram montarias extraordinárias degeneraram em poucas dúzias de cavaleiros, sem recursos para algo além de cavalos comuns, lanças e azagaias.
Amaranta era uma destas nascentes cidades-estado, distinguível das outras apenas por suas lavouras de cereais resistentes, chamadas de amaranto em homenagem a sua heroína-fundadora, Amarynthia. A seus deuses, reservavam um morro próximo à cidade, onde semeavam as variedades mais resilientes, mas nunca colhiam um único grão. Após algumas décadas incertas de luta, pragas de cólera, piolhos e desnutrição acometeram a região. Amaranta fechou seus portões por medo e desconfiança. Cada família cuidava de diversos vasos floridos em púrpura e carmim, a reserva dos deuses transplantada muralha adentro. Assim, esperavam agradar aos deuses, e serem abençoados com vigor físico e espiritual.
Passaram-se quatro anos de cerco paranoico, frente a um inimigo invisível. Para prevenir tédio, incerteza e revolta, a população treinava, engajada em batalhas simuladas contra um inimigo imaginário. Novas táticas foram elaboradas, como a falange mista, humanos empunhando sarissas com habilidade sobre a cabeça de anões servindo como escudos vivos, agressivos e impetuosos. Lá fora, inúmeras comunidades sofriam com espadas, fome e epidemias. Gradualmente, o povo amaranto percebeu sua fortuna frente ao desastre, crentes de que os deuses recompensaram sua devoção. Quando as flores começaram a definhar, os adivinhos interpretaram como uma mensagem, de que o pior havia passado. Os portões foram abertos, batedores enviados em todas as direções. Os que voltaram falavam de miséria e barbárie.
A assembleia se reuniu, deliberou, esbravejou, duelou e decidiu. Era um tempo fortuito, em que sua devoção os poupara, e sua disciplina os preparara. Era hora de se expandir, reforjar uma civilização. Era hora de formar uma hegemonia duradoura, que venceria onde a autocracia de Idura falhou. E em cada território ganho, um campo de amarantos demarcaria a gratidão eterna aos deuses.
Auge
E assim foi. Amaranta cresceu e prosperou, fundindo diversos povos numa amálgama de culturas, de abrangência e magnanimidade nunca vistas desde Idura. Novas colônias de guerreiros amarantos ocuparam regiões importantes em termos simbólicos ou materiais, que então eram renomeadas conforme a cultura amaranta. Isto era facilitado pelo fato de que Amaranta havia se tornado superpovoada, se comparada a seus esquálidos vizinhos. Raros e pequenos assentamentos deram lugar a verdadeiras cidades. Produtos de terras longínquas voltaram a ser vendidos no mercado local, e chão batido foi refeito em pavimentos de pedra.
Inúmeros povos e civilizações foram conquistados, dos quais sabemos
pouco: os extintos elfos prateados tiveram as suas bigas flutuantes
derrubadas do céu; o reino dos minotauros foi fragmentado em províncias
sem importância; as cidadelas das poderosas drakainas foram derrubadas;
os povos saúricos e as suas fortalezas ambulantes foram mortos por
golens de cerco, as manadas de dinossauros servindo de mero gado.
Ser amaranto tornou-se uma questão cultural, com numerosos nativos assimilados, adotando costumes e tradições estrangeiras em proporção muito superior de que Amaranta aprendia em troca. Contudo, sua falta de tradição marcial os tornou dispostos a aprender toda técnica e tática que encontrassem. Tentavam superar um inimigo anônimo, composto de veteranos que já haviam há muito se esgotado em atritos lubrificados com sangue. E no seu temor de encontrar este mítico e famigerado núcleo de guerreiros de Idura, eles se tornaram este núcleo para muitos.
Posteriormente, toda vantagem, ideia e até divindade com mérito próprio era adotada, como se sua origem sempre houvesse sido amaranta. O maior exemplo disto foi o ferro. Usado por anões há séculos, superior em dureza e disponibilidade, foi adotado como se o favoritismo humano ao bronze nunca houvesse existido, apenas por ser uma descoberta própria da raça. Mas deste mesmo ferro, foram armadas legiões de fazendeiros, cujas ferramentas agrícolas superiores multiplicaram a população. Menos de quatro séculos depois, esta síntese se chamava o Império Amaranto. Mesmo Amarynthia adquiriu as qualidades de inúmeras heroínas regionais, gerando uma miríade de lendas discordantes, resultando em guerras civis e rebeliões dogmáticas aqui e ali. Registros apontam que algumas facções criaram avatares fajutos de suas crenças, demonstrando a necessidade de um culto unificado como no império atual, imune a cisões mortais. Simultaneamente, paz, assim como inovações filosóficas e arcanas aconteciam em outras regiões.
Posteriormente, toda vantagem, ideia e até divindade com mérito próprio era adotada, como se sua origem sempre houvesse sido amaranta. O maior exemplo disto foi o ferro. Usado por anões há séculos, superior em dureza e disponibilidade, foi adotado como se o favoritismo humano ao bronze nunca houvesse existido, apenas por ser uma descoberta própria da raça. Mas deste mesmo ferro, foram armadas legiões de fazendeiros, cujas ferramentas agrícolas superiores multiplicaram a população. Menos de quatro séculos depois, esta síntese se chamava o Império Amaranto. Mesmo Amarynthia adquiriu as qualidades de inúmeras heroínas regionais, gerando uma miríade de lendas discordantes, resultando em guerras civis e rebeliões dogmáticas aqui e ali. Registros apontam que algumas facções criaram avatares fajutos de suas crenças, demonstrando a necessidade de um culto unificado como no império atual, imune a cisões mortais. Simultaneamente, paz, assim como inovações filosóficas e arcanas aconteciam em outras regiões.
Queda
Mas como tudo que nasce tem que morrer, o Império Amaranto se foi. A maioria acredita que os goblinoides quebraram o império com mil revoltas simultâneas. Ninguém nega que isso seja um fator importante, mas houveram outros problemas: corrupção e decadência; gastos colossais que nunca valeram a pena; conquistas além da capacidade administrativa do império; epidemias que talvez fossem obra de Arcantos; guerras civis. No final, talvez os goblinoides não tenham sido mais do que os pregos em um caixão já selado.
Renascimento
Nem tudo foi perdido. Pelo menos duas legiões amarantas viajaram em busca de terras pacíficas, fundando a Lega Groura. Embora os deuses fossem renunciados, as demais tradições continuam até hoje. E a União dos Ducados Imperiais, melhor conhecida como Império do Norte, se proclamou descendente dos antigos amarantos, criando um império maior e mais longevo.
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