O início do Ciclo Heróico foi repleto de reviravoltas. Numéria cedeu à expansão mortal, abandonando meio continente em alguns séculos. Algumas fadas exploraram este enfraquecimento, escapando para viver entre mortais. Tornaram-se feidralin, nabâtu, feidarash e outras etnias élficas. Gratos à ajuda dos Inimagináveis, formaram um conselho de mortais, dedicado a garantir os direitos de vida e morte que Numéria negava aos seus. Satisfeitos, os Inimagináveis partiram para sua terra natal. Sarba aprendeu duas virtudes inéditas: prosperidade e gratidão.
Após um período curto, uma nova crise que ignorava distâncias geográficas e culturais. A causa era incerta: poderia ser Numéria revidando em fúria por suas perdas; talvez um efeito colateral do abuso de poderes mágicos por mortais despreparados; até o simples e insatisfatório acaso.
Portas se abriram aonde antes era só rocha ou ar. Visitantes atravessaram estas rotas, tão ou mais poderosos que o novo conselho. O pior foi Phalanx, uma entidade que aliciou visitantes e sarbenhos, prometendo liderá-los até o lar dos Inimagináveis. Para chegar lá, usou Sarba como uma via de acesso. No caminho, testou suas hordas em povos e cidades, comprovando a superioridade do que ele chamava de "demônios".
Sarba aprendeu sobre traição quando Dawo, um dos Inimagináveis, aceitou negociar poder em troca do acesso à sua terra. Este fato e a demora na reação dos heróis criaram dúvidas e rumores. Quando retornaram, eram mais fortes, mas não o bastante. Phalanx recuou até os mares do sudoeste e ergueu uma montanha, cujas erupções criavam servos flamejantes e nuvens de cinzas. O inverno foi longo, o sol no horizonte substituído por jorros de lava viva, mais semelhante a serpentes do que rocha. Colheitas rarearam, manadas definharam.
O conselho reservou mantimentos para alimentar todos os voluntários que acompanhassem os Inimagináveis até a fortaleza de Phalanx. Vindos do norte, leste e sul, quase todos seguiram até o oeste, empunhando armas de bronze que antes seriam exclusivas de lordes e reis. Nenhum voltou, e houve aqueles que se perguntaram: será que os Inimagináveis só podem ser o que são sem testemunhas? Sarba selou a virtude do ceticismo em magma ardente e sangue gelado.
Um ano após banha ser mais valiosa do que ouro, as erupções cessaram e os Inimagináveis se foram. Mais uma vez o destino do continente dependeu de ações desconhecidas por seus habitantes. Alguns bardos falam desta época como a puberdade de Sarba, um termo que faz jus às mudanças e reviravoltas que seguiram a crise. Novas portas, novos visitantes. Muitos de lugares desconhecidos, alguns daqui, todos com poderes e mentalidades únicas, trazendo idéias estranhas, benéficas e até assustadoras. A palavra "herói" significava apenas alguém que possuía uma natureza extraordinária, independente de qualquer possível bondade. Eventualmente, deixaram de surpreender, sendo absorvidos pelas mesmas culturas que se formaram em torno deles. A maioria morreu junto com o seu herói.
Houve mais guerras, mais desastres. Muitos foram fomentados pelos heróis e, depois, silenciadas por outros heróis. Ter a vida abalada pelas façanhas de outros se tornou comum, até esperado. O raro passou a ser tradicional. Assim, Sarba aprendeu resignação, humildade, perdão e generosidade.
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