quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Lenda de Axxal

   Todos ficaram temerosos quando os Deuses da morte deixaram de responder a seus fiéis. Então Axxal surgiu de um portal com seu séquito, silenciando temores sobre a morte. Seduziu Sarba com seus Mistérios Axxais. Inúmeros seguidores responderam. Um extenso ritual foi realizado, e descobriu-se diferenças irrevogáveis entre o que Axxal prometia e o que pretendia.

Acólitos foram sugados
Inocentes profanados
Mas algo saiu errado
no que foi traçado
-Fragmento dos Poemas Unos

   A vida sempre foi incerta, mas Axxal tornou a morte igualmente duvidosa. Aprendemos o pecado da Ambiguidade em meio aos corpos emaciados e móveis de ancestrais que passaram a responder nossas preces sobre o porvir com urros, preto e branco dissolvido em cinza. Procissões florais acompanhavam os bravos que revidavam, buscando alentar o que viam como a carência de seus antecessores e os olfatos sobrepujados de seus sucessores. Axxal era assim por punição, ou representava a punição de Sarba? Até hoje, é dito  em momentos de incerteza que algo não cheira bem.

Por amor
Por fome
Por medo
Por união
Por respeito
Por desespero
Por curiosidade
Mortal comeu mortal
-Fragmento dos Poemas Unos.

Cultos antropofágicos
Anunciavam veemetente
Bêbados proféticos
Concordando plenamente
No que todos sabiam
Os Inimagináveis voltariam
-Fragmento dos Poemas Unos.

   Benditos sejam aqueles que fugiram pelas portas, pois alguém alcançou os Inimagináveis. Interromperam seus deveres por Sarba, nos foi contado. Talvez houvessem menos anos de angústia se não fosse a interferência de Seminimagináveis, cobiçando algo buscado pelos heróis e por Axxal, medalhões onde as almas sugadas por Axxal ficaram presas e espalhadas além Sarba pelo último membro do Conselho Vigente pouco antes de morrer. Agora, os oito eram nenhum. Novas estrelas no céu marcavam as localizações dos medalhões na terra. Ocasionalmente, uma delas desaparecia, e apenas a virtude da Esperança impedia os piores medos. Mais uma vez, Sarba era uma mera expectadora de seu destino.

   Registros atávicos anões contam-nos sobre competições de lamúria onde não haviam
exageros nem vencedores, pois como medir o sofrimento?

   Se pelo som, o que superaria os urros engasgados e sussurros guturais dos desmortos?

   Se pelo olfato, como se sobressair entre o ranço dos apodrecidos?

   Se pelo tato, o que é mais viscoso e repugnante que um cadáver rijo, coberto de fluidos
coagulados?

   Se pelo paladar, o gosto das biles que inchavam e rasgavam intestinos era invencível.

   Se pela visão, uma cabeça decepada, sem língua ou mandíbula, gemendo devido ao vento
passando por suas fendas não tem igual.

   Mortos e vivos anseavam por uma resolução. Sua ansiedade foi respondida pelo ressurgimento das estrelas, na forma de constelações rivais no céu noturno. Isto foi tomado como um sinal de empate, como se Axxal fosse equivalente aos Inimagináveis. Após derrotar o séquito axxalino, portando diversos medalhões estrelados, miram o maior dos desmortos. Novamente, momentos decisivos ocorrem longe de testemunhas, e a suspeita levanta do túmulo. Mais uma vez, os Inimagináveis voltam sem seu inimigo, e os agradecemos por isso. Dádivas Inimagináveis agraciam Sarba, um alívio catártico para mortais. Seguiu-se um longo período de recuperação que terminou em prosperidade, que gerou ressentimento quando se viu que o controle sobre os Inimagináveis era impossível. Após, segue um período de inconsistências e contradições que impedem-nos de escrever precisamente sobre ele. A única certeza é que as visíveis desavenças ordinárias e ideais gastos fez com que mal nos esforçássemos para torná-los Imagináveis. Clamavam ter crescido em poder, mas Sarba nunca os viu tão fracos.

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