segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

D'amaranta

 
     A cidade D'amaranta, capital do baronato de Falkner, fica no interior de um imenso reservatório vazio, antigo e semi arruinado. Uma ruína do Império Amaranto, os habitantes acreditam que o seu propósito foi armazenar água para irrigação em escalas enormes. Circular e decorado com estátuas em seu exterior, o ex-reservatório tem mais de vinte andares de altura. Muitos alquimistas e arquitetos desejam descobrir qual a fórmula do concreto capaz de sustentar tal estrutura e durar tanto tempo sem ruir. Ligados ao reservatório, há quatro imensos aquedutos com cinquenta metros de altura e cinquenta quilômetros de extensão em um declive gentil até chegar ao solo. Cada aqueduto fica em um sentido cardeal: norte, oeste, sul e leste. Eles agora servem como grandes passarelas para que viajantes e caravanas entrem no ex-reservatório. Também são usados como hipódromos regularmente. Os dois ao norte e oeste acomodam a estrada de ferro. Sempre que o trem passa, jovens a cavalo competem com ele.

     Já o interior do ex-reservatório é uma série de terraços, facilitando a atual ocupação urbana em meio às ruínas que nunca foram devidamente restauradas, apesar de muitas tentativas. O telhado de uma casa é o chão da outra; braços de estátuas tornam-se colunas de sustentação; pedras são reutilizadas geração após geração, basaltos, mármores e granitos em muitas cores e tamanhos, vindos de pedreiras extintas; a "Taverna das Lágrimas Fermentadas" tem esse nome porque as bebidas são servidas através das órbitas vazias na cabeça oca da estátua de um imperador amaranto desconhecido; uma rede irregular de escadas e pontes de corda liga tudo; barracos se projetam de alcovas que abrigaram criptas; os lares de quatro ou cinco famílias se agregam em torno de colunas coríntias imensas; as ruas daqui são pouco mais do que aberturas entre construções labirínticas. A antiguidade é palpável nas texturas de mosaicos incompletos, sentida nos odores de ar estagnado, visível em rachaduras mais anciãs do que muitos elfos. Pernas de mesa e batentes de porta podem ser relíquias de estilos artísticos que se foram quando Noster Amaranthi era feita de barro e madeira. Vários habitantes vivem de encontrar e vender artefatos amarantos, desde afrescos vulgares a espadas de cabo prateado. O palácio do barão fica na borda do ex-reservatório. No topo, uma coluna em forma de espada serve de ponteiro do maior relógio solar conhecido, a ponta sincronizada com monolitos nos arredores de D'amaranta mesmo após mais de mil anos sem cuidados. O restante da borda abriga duas dúzias de moinhos de vento.


     Fora da cidade, existem campos sem fim ocupados por pastores e criadores de cavalos. O baronato Falkner produz vinte mil cavalos por ano para o império, desde montarias pequenas e rápidas para mensageiros aos exemplares agressivos e de grande porte que carregam um cavaleiro em panóplia completa. Dezenas de milhares de ex-escravos goblinoides foram reassentados na região. A maioria agora são pastores, veterinários, criadores de cavalos e soldados imperiais. Um ou outro conseguiu até tornar-se parte dos Alabardeiros.

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     Os Alabardeiros Falknerianos são uma cavalaria de elite dedicada a enfrentar lobos atrozes, wargs e saqueadores montados nos mesmos. Alabardeiros e suas montarias são bem protegidos por couraças e lamelas pintadas de vermelho em tons vivos adquiridos na Serra da Sangria. Mesmo as alabardas são às vezes vermelhas, e os modelos usados tem enorme variedade em lâminas, número e curvatura dos ganchos e extensão da haste. O traço em comum é que os alabardeiros consideram esta arma tão versátil e eficaz que carregam nas costas outra como reserva, ao invés de espadas ou escudos.

     Uma instituição local importante é a Cidadela-Museu Diatír, um monastério de Ourgos e Devinci que se dedica a resgatar, proteger e restaurar as maiores obras de arte e artesanato, desde canções de amor entre dragões e princesas a elmos ganellianos, desde mosaicos de pedras preciosas a golens coríntios em perfeito estado. Para muitos artistas e artesãos, não existe honra maior do que criar algo digno de ficar aqui. Uma função secundária mas não menos importante é a de abrigar artefatos destrutivos como as Flautas Jericoanas, que fazem muros ruírem. Apenas pessoas autorizadas pelos deuses podem usar estes itens. Este monastério também funciona como uma guilda de restauradores, que treinam nas ruínas locais antes de receberem o seu diploma. Um deles, Mormo Horacos, tem uma certa teoria: a durabilidade extraordinária do concreto amaranto é resultado da mistura de cinzas de uma certa linhagem vampírica que foi quase extinta no processo. Ele considera que os rumores sobre um "vampiro de muitas vozes e atitudes" nos armazéns inferiores possam ser pistas para uma criatura regenerada das cinzas de dezenas ou centenas de vampiros diferentes. Se for verdade, seria valioso como evidência de sua teoria, assim como uma fonte de informações sobre as origens da cidade, do Império Amaranto e quem sabe o que mais?

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