segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Tallarx



“...Muitos visitantes discursaram ao longo da tarde, glorificando os avanços conquistados pela assembleia. A cerimônia se estendeu noite adentro sem que ninguém notasse. Quando o emissário khejali notou que o sol havia se posto no horizonte, mas ninguém percebera devido à luz emitida pelo próprio Diveus, comentou:

-Parece-me que o sol nunca se põe por aqui.

A voz do deus-sol ecoou um momento após, proclamando:

-EXATAMENTE.

Desde então, Tallarx é conhecida como a cidade onde o sol nunca se põe.”

-Extrato dos registros municipais.
    Mesmo antes de Iskander se tornar Diveus, já haviam peregrinações ao mausoléu. Alguns já ficavam, outros vinham para fornecer serviços aos peregrinos. Quando a ascensão ocorreu, esse processo foi acelerado pela convocação do deus-sol a uma assembléia. Nela, os muitos códigos de lei imperiais foram reunidos, atualizados, suas contradições resolvidas. Finalmente, elaboraram o resultado em um código penal conciso e universal, o Códice das Justiças. Toda a infraestrutura necessária para este empreendimento da lei e ordem foi pago e mantido por pelo culto de Diveus e o tesouro divino. Quando o códice padronizou as leis por todo o império, selou a relação entre o deus-sol e a ordem, justiça e união.

    Durante a década e meia que levou para a assembleia fazer isto, os arredores do mausoléu cresceram a ponto de se tornarem uma cidade chamada Tallarx. Aqui estão as autoridades máximas do culto de Diveus, juízes com décadas de experiência, numerosos acólitos, monges, guarnições de honra e eunucos burocratas. A estrutura urbana é um complexo de monastérios, subúrbios, mercados, albergues para peregrinos e templos.

Temer o caloroso Diveus ao invés de respeitar a lei e ordem que ele trouxe ao império, é como prestar mais atenção no chapéu do bardo do que na música. Sem o Códice das Justiças, poderíamos sofrer os banhos de sangue que ocorrem nas sucessões de poder em lugares onde as coroas são hereditárias.

-Dédala, filha celestial de Diveus

    As Helíades governam a cidade: Ícara, Dédala, Hélia, Apolônia e Tália. Estas são as filhas celestiais de Diveus, os únicos seres capazes (e com permissão) de realizar a manutenção do complexo arquitetônico incandescente que forma o corpo físico de seu pai. Pele de um bronze avermelhado; tão quentes que não podem ter pelos no corpo; cabeças adornadas com cristas solares transversais; Capazes de conversar e cantar simultaneamente. Se Diveus precisa garantir o cumprimento de uma tarefa, elas serão seus agentes.

     A região é salpicada por centenas de relicários, cada um construído para abrigar um dos Espólios Solares. Uma miríade de troféus obtidos durante a expansão imperial, alguns dos quais apresentam propriedades únicas. Vão de um golem leonino de porcelana a um obelisco metálico anão cuja ferrugem é nutritiva, de uma besta lunar empalhada em toda a sua resplandecência cristalorigâmica a uma múmia piroclástica kosinbiana. Incorporados na arquitetura de Tallarx, fortalecem Diveus.

    Toda esta concentração de indivíduos importantes ao bem-estar do império, assim como as riquezas exibidas abertamente, requerem uma guarnição à altura. Uma tarefa cumprida pelos Rapinos, uma força mercenária encarregada de miliciar Tallarx. São todos mestres falcoeiros, comandando uraçus dourados criados por Diveus, treinados para caçar criminosos com as suas penas serrilhadas. Em Tallarx, qualquer mero batedor de carteiras aprende a observar mais o céu do que as pessoas ao seu redor.

     Nobres de todo o império vem estudar nas academias locais, tornando Tallarx um lugar onde contatos importantes, intrigas, alianças e traições separam os ingênuos dos futuros governantes. E moderam seus egos quando encaram Diveus.

     Aqui fica a sede dos Custódios. uma ordem de cavaleiros errantes dedicados a resolver disputas entre cidadãos nortenhos. Onde não há um tribunal, são juízes. Se um tribunal já existe, servem como promotores e defensores, seja na corte ou no duelo entre campeões.Registros de duelos judiciais devem incluir a técnica decisiva para o vitorioso. Uso de técnicas classificadas como “injustas” podem invalidar o resultado. Deve-se lembrar que cada feudo tem a liberdade de definir o que é uma “técnica injusta”.

Quando contemplei Tallarx à noite, vi como o seu brilho atingia o anel ghariano, onde os signos surgem. Descobri um meio de ler os astros, mas precisei descartar meus frágeis olhos mortais para usar este par de gemas em seu lugar. Uma de quartzo oracular que filtra apenas a luz verdadeira, e uma do âmbar que contém o passado. Assim posso mostrar o destino de formas indescritíveis. Alguns dos que vieram a mim, se foram sem lembrar de nada, para então lembrar em sonhos ou alucinações logo antes de momentos críticos de suas jornadas.

-Delfaiolita Sybilaris, medusa profetisa de tallarx.

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