sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Origens de Kahonua e Kosinbia

 Sacrificar-se pelo bem maior é uma virtude. Morrer por nada é um pecado. 

-Amanirena “degoladora-de-cobras” Thákame, arauta e profetisa de Kahonua. Prece de Moto Mapokeo Ya (Folclore do Fogo), Volume Cinco.



     Por que Kahonua e piromantes são tão importantes em Kosinbia, a ponto da região menosprezar ou até vilanizar outras formas de magia e outros deuses? É porque a própria idéia de “Kosinbia” nasceu através dos piromantes e a deusa do vulcão.
     
     A região já foi dividida entre uma infinidade de tribos e grupos que podiam compartilhar coisas como língua, raça e  dificuldades, mas não se viam como iguais ou parte de algo maior. De fato, a dificuldade mais comum para todos eram as desavenças e as lutas com tribos vizinhas.

     Neste mundo fragmentado, haviam duas tribos nômades, únicas e relativamente aceitas pelas demais: 


  •  Oayas, predecessores dos piromantes, eram tão respeitados e temidos quanto bruxos, xamãs ou magos, trazendo problemas e soluções em igual medida. Eles adoravam a deusa-zebra Nuami, apenas uma entre muitas outras divindades exclusivas de uma tribo ou outra. A sua mescla de luta sobrenatural e dança ritual era baseada nos movimentos das zebras, e praticada nos arredores de vulcões.


  •  Khayas eram mineiros de ferro e ferreiros ambulantes. Mas como guardavam as suas técnicas para si, eram mistificados pelas outras tribos, pois sabiam como “transformar a terra em lanças e espadas”. O seu totem e deus era o cupim, chamado Kahomi, pois o barro dos cupinzeiros era um dos segredos que usavam para fazer as suas fornalhas.

     Os dois grupos não tinham afinidade entre si. Às vezes, uma criança dos Khayas era enviada aos Oayas pois sua família pensava que ela tinha um talento para a piromancia e vice-versa. Isso era comum entre todas as tribos que se especializavam em alguma arte ou ocupação e tinham jovens que não se encaixavam por alguma ou outra razão, muitas das quais não tinham nada a ver com talento: uma forma benigna de exílio e eliminação das “ovelhas negras” da comunidade.

     Esta foi a origem da futura profetisa Amanirena Thákame. Ela nascera entre os Khayas, mas foi levada aos Oayas após os pais morrerem em um ataque orc que também impediu que os demais tivessem condições de criá-la. A menina não morreu no ataque porque conseguiu fazer com que o orc que matou os seus pais fosse carbonizado na fornalha que usavam. Aquilo foi visto como um sinal de que o seu futuro estava no fogo.

     Já uma adolescente quando entrou nas tribos piromânticas, a sua perspectiva acabou sendo uma mescla da infância ferreira e da maturidade flamejante. Em algum momento incerto definiu ideias de união entre pessoas hostis umas às outras, mas que sabiam falar e amar, contra um mal maior: os orcs.

     Os folclores orais piromânticos oferecem diversas versões para como ela uniu as duas tribos de tal forma que os próprios deuses se fundiram em uma nova divindade que mesclava terra e fogo no símbolo do vulcão, Kahonua. A versão mais romântica é que ela conseguiu realizar um ritual de casamento para um casal de deuses que já se amavam à distância; a versão mais mundana afirma que ela impressionou a tribo ferreira com um fogo tão quente que criava aço e a tribo piromântica ao produzir “fogo da pedra”, a pólvora, e assim convenceu ambas de como o todo podia ser mais do que a mera soma das partes; outra versão fala de que ela se casou ou se envolveu com homens importantes nas duas tribos, influenciando-as através deles; existem também versões mais sórdidas ou pacíficas, trágicas ou místicas. Talvez quem esteja mais perto da verdade sejam aqueles sábios que tentam reconstruir os fatos a partir das muitas versões.

     O que está claro é que ela passou a liderar uma coalizão nômade que usava aço e fogo na forma de lâminas sem igual, artes marciais temperadas com magias impressionantes e algo completamente novo, as primeiras armas de fogo. Canhões e arcabuzes primitivos, moldados em ferro e bronze, usando uma mistura que talvez ninguém teria descoberto se não tivesse a motivação cultural e religiosa para procurá-la: pólvora. Era difícil contra-argumentar que união traz a força quando o resultado explode muros de pedra, assusta homens e animais, mata orcs antes deles encostarem em você e pode ser manuseado por qualquer um com mais facilidade do que arcos, fundas, azagaias e bestas.


     Curiosamente, Amanirena não usava armas de fogo. Ela empunhava a lança Wachumatu e a machete Nyoka-Auaye, feitas do ferro que ficou na fornalha em que empurrou o orc que matara os seus pais, agora lâminas de aço vermelhas de tão incandescentes. Embora a lança fosse usada com mais frequência, a machete era muito mais temida. A profetisa ensinava que matar alguém era um desperdício, pois uma vida pode e deve ser sacrificada apenas em prol do bem maior. Punições já eram algo diferente. Com a lâmina quente, ela cortava e cauterizava criminosos: dedos, orelhas e outras partes que os culpados teriam que aprender a viver sem. Execuções aconteciam apenas quando alguém cometesse tantos crimes que não havia mais partes a cortar.

     Trinta anos depois, ela conseguiu unificar as tribos, organizá-las em principados, instituir a tradição Amani e iniciar a construção dos Bastiões do Sacrifício. Quando o seu dever foi cumprido, veio a recompensa: a deusa do fogo e da terra transformou a sua profetisa na primeira Nyokakuba, mãe de todas as demais. E nessa forma Amanirena vive até hoje em seu ninho, a caldeira vulcânica sagrada chamada Kahonuterasi.



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