quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Rúnicos




     Um império com cem milhões de habitantes contém muitas raças, culturas e etnias. Algumas são mais relevantes, como os feidralin. Outras são menosprezadas. É o caso dos rúnicos. “Sem-clã” Runaros foi um anão comum até sofrer de lepra nefilim em 1092 Pós-Idura. A doença fez a sua pele ficar acinzentada e quebradiça, barba e cabelos literalmente virando cinzas secas. Mas além de horrível era mortal. Temendo o contágio, o seu clã o exilou como era comum em todo lugar desde o fim da Invasão Nefilim. Sem-clã perdeu a segurança da comunidade, o amor da família e tudo o que não podia carregar na carroça. Não se sabe o que ele fez então. Ninguém tem registros, embora os rúnicos tenham mil histórias às vezes contraditórias sobre o seu fundador. Não se sabe nem mesmo como ele morreu. O que se sabe é que, de alguma forma, ele desenvolveu tatuagens rúnicas que desaceleram, ou, caso aplicadas rápido o suficiente, estancam o progresso da corrupção prânica causada pela doença. A tatuagem é diferente para cada um, mas as linhas, curvas e ângulos sempre parecem refletir a personalidade do portador de alguma forma. Runaros tratou muitos e ensinou outros tantos.

      Arquivos municipais no império e além começaram a registrar a presença de caravanas autointituladas “rúnicas” já em 1165 PI. Bandos ambulantes de comerciantes, artistas, charlatões, ferreiros, contrabandistas e ladrões, os indivíduos eram tão infames quanto as suas mercadorias eram apreciadas. Por um lado, as bocas alheias desdenhavam das profissões e atitudes rúnicas. Logo surgiu a expressão “jeito rúnico”, quando alguém busca vantagem ou pula em uma oportunidade mesmo que não precise e até se arrisque para tal. Por outro lado, estas maneiras de viver foram todas as em que os lazaretos não foram barrados ou expulsos. As bocas alheias eram igualmente barulhentas quando um rúnico tentava ser o seu vizinho. No máximo, existiram cortiços apelidados “leprosários” onde eles viviam à parte e quase sempre fora dos muros. Roubar era muitas vezes a única alternativa para sobreviver, e nem todo rúnico era uma boa pessoa. Mas por bem ou por mal, eram mais marcantes do que criminosos comuns.

      Quando perceberam que já eram muitos com um traço comum que ninguém mais tinha, se organizaram. Fundaram a Ordem Lázara e fizeram acordos com o culto de Dhalila. Metade das caravanas iria se estabelecer em lugares isolados ou vazios; um voluntário em cada uma, devidamente equipado, integraria a Ordem, defendendo os demais de perigos que às vezes incluíam multidões de nortenhos furiosos e lordes em busca de bodes expiatórios. A outra metade continuaria negociando aqui e lá, comprando e vendendo como sempre fizeram. Mas agora venderiam algo em nome de Dhalikastra, uma mercadoria que garante a abertura de portões e até certo grau de etiqueta forçada: o adamante retirado dos ninhos cadentes eliminados pelo culto de Dhalila. Por todas estas razões: marginalidade; nomadismo; adamante; comércio de bens, serviços e informações; tudo isto torna rúnicos benquistos por aventureiros e vice-versa. Afinal, de lazareto para se tornar um aventureiro já é meio caminho andado.


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