segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

9 razões para que magos não aposentem exércitos

  https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d0/DnD_Orc.png 

"Com magos andando por aí, por que ainda existem exércitos?"


    Essa é uma pergunta que eu já vi várias vezes em discussões sobre fantasia e RPG. Dita com palavras diferentes, mas o significado é sempre o mesmo. E como mais um cara escrevendo um cenário, isso me preocupava, pois eu gosto mais de grandes batalhas do que um duelo mágico.

"Mas eu gosto da ideia!"

Primeiro, quero dizer que é possível que magos inutilizem grandes números de soldados e batalhas campais, dependendo do tipo de magia e do contexto. Por exemplo, pode-se imaginar um campo de batalha onde pequenos grupos de aventureiros são equivalentes a um esquadrão de infantaria, enquanto magos e magia equivalem à artilharia, bombardeiros e rádios. Exemplo:

"Lorde do Céu, aqui falam os Invasores do Proibido. Precisamos de uma salva piromântica na balista alada 75 metros ao norte. Caso contrário, não conseguiremos avançar até a brecha na segunda muralha. Pelo bem de Abalm."
"Invasores do Proibido, aqui fala o Lorde do Céu. Um tapete voador irá despejar cinco ânforas de fogo azul sobre a balista alada. Estimativa de impacto: seis minutos. Diga pro micro-imp em sua ampulheta cronometrar de acordo. E se apressem, ou vão perder a aposta com os Descumpridores de Promessas e me custar cinco moedas. Pelo bem de Abalm."

    Poderia-se reproduzir o filme Falcão Negro em Perigo dessa forma como uma aventura de RPG. Ao invés de dizer que não pode, vou só falar dos poréns que isso pode trazer.

  1. Quantidade tem uma qualidade própria - Uma razão universal e atemporal para um grande número de soldados é a necessidade de ocupar e controlar território. Seja uma vila com silos de grão cheios, seja uma guarnição para uma fortaleza, números são necessários para se manter o que foi conquistado. 10.000 lanceiros podem estar em 100 ou 1000 lugares ao mesmo tempo, suprimindo rebeldes e guerrilheiros de forma mais eficaz do que uma dúzia de magos.
  2. Logística e suporte - Quanto mais poderosa for uma tropa ou arma, mais difícil e cara é a sua manutenção. Canhões precisam de balas e engenheiros, tropas montadas precisam de cavalos, navios precisam passar dias fora d'água para remover as cracas do casco. Isso sem contar necessidades supérfluas como as de Genghis Khan, que viajava com um pavilhão extenso como um palácio. O que um mago precisaria para sua função? Ingredientes? Livrarias? Servos? Descanso? Assim como um canhão é inútil sem pólvora, um mago poderá ser inútil caso não consiga pesquisar os rituais necessários para destruir muralhas de obsidiana, ou servos para cumprir as banalidades que ele se recusa a fazer. Assim como galés em reparos podem ser incendiadas, um mago pode ser assassinado enquanto dorme.
  3. O poder corrompe - Se o mago (ou magos) é uma força tão determinante, por que ele segue ordens? Assim como generais romanos se tornaram imperadores à força, um mago pode decidir que ele é que deveria ser o rei. Ele também pode exigir o comando, ou direito a todo o saque. Exércitos precisam de uma hierarquia e organização, e um conjurador independente pode trazer mais problemas do que soluções.
  4. Não quero - Não são todos que desejam lutar em guerras. Pacifismo, covardia, conforto, pagamento ruim, um trabalho acadêmico inacabado, um mago pode preferir gastar o seu tempo de outra forma por diversas razões. E se ele é tão poderoso que a sua presença é indispensável, quem poderia tentar forçá-lo a ir?
  5. Eu também quero - Historicamente, qualquer vantagem decisiva é copiada por outras culturas. A roda, navios, elefantes, pólvora, escrita, cota de malha. Se magos e magia fazem tanta diferença, eventualmente outras facções teriam os seus. Por exemplo, se o inimigo conta com um oráculo capaz de prever os seus movimentos, seria razoável desenvolver alguma forma de ocultação como um equivalente mágico de contramedidas eletrônicas.
  6. Flexibilidade - Quase sempre, um exército homogêneo será extremamente vulnerável. Se você só tem espadachins, eles poderão ser dizimados por arqueiros. Trezentos arqueiros sofrerão sob os cascos de cinquenta cavaleiros. Filmes à parte, os mesmos espartanos que se recusavam a usar arcos contratavam arqueiros da ilha de Creta. Assim, eles evitavam que uma vida de treinamento fique inútil frente a um inimigo mantendo distância e atacando com algo simples como azagaias. E falando de espartanos...
  7. Perdas irreversíveis... - Enquanto tropas espartanas eram quase imbatíveis, também sempre eram poucas. Eram quase valiosas demais para serem usadas, pois só poderiam ser repostas uma geração depois. Apostar todas as fichas de uma vez traz desgraça quando as coisas não são como o planejado, e na guerra isso é rotina.
  8. ...Ou facilmente reversíveis - No outro extremo, romanos chegaram a perder 400.000 homens antes de vencerem Cartago na primeira guerra púnica. Diversas destas perdas foram obra de tempestades que afundaram suas frotas. Os romanos acreditavam que as mesmas eram criadas pelos deuses cartagineses, intervindo a favor de seus adoradores. Ainda assim, eram corajosos ou teimosos demais para desistir. Imagine que, mesmo se um reino fantástico pudesse contar com magias capazes de invocar uma tempestade, ainda poderiam perder para os romanos da vida real!
  9. Um mago quis assim - Dizer que um mago vence um exército no campo de batalha também me soa como: é magia e pronto. Enquanto conveniente em certos momentos, me parece algo que empobrece o que poderiam ser cenas de ação muito mais interessantes. Milhares de soldados e magos poderosos interagindo entre si podem gerar resultados talvez tão inusitados e criativos quanto os que um grupo de rpgistas consegue.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo!
    Mesmo a fantasia precisa ter um pouco de verossimilhança.

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    1. Muito obrigado!
      Precisa sim, até mais do que a realidade às vezes.

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