quarta-feira, 8 de abril de 2020

Bestiário Sul-Americano - Parte 1 de 3

                        https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e9/South_America_satellite_orthographic.jpg/426px-South_America_satellite_orthographic.jpg

Como que vocês vão? Eu decidi reunir e mostrar algumas das criaturas encontradas em folclores e mitologias da América do Sul. A lista tem 92 seres, então eu a dividi em três partes. Também excluí monstros brasileiros populares como o Boto e o Curupira, mas ainda assim a lista tem diversas criaturas brasileiras.


(Não estou incluindo imagens dessas criaturas por duas razões: direitos autorais e também porque algumas são tão obscuras que não encontrei imagens.)



1) Abaçaí – Um tipo de Pã indígena. Um espírito que força alguém a dançar e cantar. Ele possui a pessoa, levando-a a um transe festivo. O Abaçaí também consegue se transformar em qualquer animal, pessoa ou objeto. Mitologia Tupi.

2) Abúhukü – Monstros noturnos que personificam doença, morte e outros males. Eles são associados às almas de envenenadores, assassinos e adúlteros. Eles também tem um rosto extra na nuca e corpos grudentos que impossibilitam que se escape dos seus abraços. Um Abúhukü faz um buraco no crânio da vítima e suga o interior dela através dele. Sobra apenas uma pele vazia pendurada em um galho. Os Abúhukü já foram numerosos e aliados com onças malignas, cooperando para dizimar humanos. A humanidade teve uma trégua após uma série de enchentes e incêndios reduzirem os números de ambos os predadores. Mitologia do povo Cubeo.


3) Ajaklalhay – Uma tribo de homens-pássaro. A lenda conta que conforme o número de tribos humanas, divindades e xamãs cresceu, esses seres sentiram que o seu valor diminuiu. Eles decidiram se jogar em uma enorme fogueira, e dela renasceram como inúmeros pássaros comuns. Mas nem todos fizeram isso, alguns ainda existiriam. Os Ajaklalhay sabiam como falar com animais, convocar tempestades, invocar relâmpagos e ventanias. Mitologia do povo Nivaclé.


4) Alicanto – Pássaros que trazem sorte a mineiros porque eles comem ouro e prata. Se o mineiro consegue seguir o Alicanto sem ser descoberto, pode achar aonde ele encontra esses metais preciosos. Mas, se o Alicanto percebe que está sendo seguido, ele guia o mineiro ganancioso até um penhasco ou ravina e faz com que a pessoa caia e morra. Alicantos que comem prata são prateados e Alicantos que comem ouro são dourados. Os ninhos deles são perto de colinas e cavernas. Um registro que eu encontrei sobre os Alicantos dizia que eles são pesados demais para voar, tem pernas longas com garras e um bico curvo. Folclore chileno.


5) Amaru (“cobra”) – Uma gigantesca cobra de duas cabeças, que eu considero como o equivalente andino do dragão europeu. No que parece ser a lenda original, a Amaru é petrificada, e aldeões usavam o pó desse corpo petrificado para curar doenças e ferimentos. A Amaru é associada ao submundo, a terra e terremotos, os últimos causados por ela quando se move pelas profundezas da terra. Alguns registros falam que existe mais de uma Amaru. Após os Incas serem conquistados e a região ser influenciada pela cultura espanhola, a Amaru ganhou aspectos de dragões europeus, por exemplo asas e patas. Mitologia Inca.


6) Anchimayen – Descritos como pequenas criaturas que se parecem com crianças. Anchimayen podem se transformar em esferas voadoras brilhantes. Elas servem aos Kalkus (um tipo de feiticeiro do folclore Mapuche), e são criadas a partir dos cadáveres de crianças. Não me ficou claro se elas são as mesmas criaturas que os Anchimallén, que é um tipo de anão canibal que vive em cavernas, joga pedras nas pessoas e usa lanças. Pode ser que a lenda tenha mudado com o tempo como todas as lendas fazem. Mitologia Mapuche.


7) Andurá – Uma árvore que fica flamejante à noite, sem sofrer qualquer queimadura. Parece interessante como um ponto de referência geográfico, entidade sagrada ou uma fonte de fogo para uma tribo. Mitologia Tupi-Guarani.

8) Anhanguá – Um espírito que protege animais, especialmente as fêmeas e filhotes. Pode haver mais de um. Geralmente surge como um cero branco de olhos vermelhos, mas pode assumir qualquer forma. Por exemplo, uma história fala de um índio que torturou um filhote para que os gritos atraíssem a mãe do mesmo. Quando essa mãe veio, o índio a matou. Foi aí que a mãe do filhote se mostrou ser uma ilusão do Anhanguá, e na verdade o índio matou a própria mãe. Mitologia Tupi.

9) Ao Ao – Uma das criaturas mais importantes da mitologia Guarani, um dos sete filhos amaldiçoados de Tau e Kerana. É descrito como um monstro voraz semelhante a uma ovelha com um conjunto enorme de dentes. Outros o descrevem como um grande porco-do-mato carnívoro. O nome é derivado do barulho que faz quando persegue as suas vítimas, "ao ao ao!". Ele só come humanos. O Ao ao original possui grandes poderes reprodutivos e é às vezes identificado como a divindade Guarani da fertilidade. Ao ao gerou muitos filhos amaldiçoados da mesma forma. De acordo com a maioria das versões do mito, quando ele localiza uma pessoa para comer, a persegue por qualquer distância sobre qualquer terreno, só parando quando a pega. Se a pessoa escala uma árvore, O Ao ao vai escavar as raízes até ela cair. A única árvore que oferece abrigo contra o Ao ao é a palmeira. Subindo em uma, ele desiste por alguma razão.

10) Apu ("senhor") – Cada montanha dos Andes teria um espírito desses, protegendo os nativos locais. Certas rochas e cavernas também teriam um Apu. Mitologia Inca.

11) Boraro – O nome de uma versão mais monstruosa do Curupira. Ele tem pés voltados para trás, é tão alto quanto uma árvore, grandes presas e genitais. Existe um mito a respeito da pele vermelha do Boraro, que ele tira quando vai nadar ou pescar. Um homem vestiu essa pele, e a mesma passou a controlar quem a vestiu. Ela levou o homem a cometer atos malignos: matar e comer o Boraro, além de ir até a casa do mesmo e tomar o seu lugar. Depois de alguns anos ele voltou para a sua tribo original e contou essa história. Mitologia do povo Tucano.

12) Caboclinho do Mato – Um homem pequenino que vive no mato. Ele é um dos espíritos que ensina aprendizes de xamã. O Caboclinho era um homem comum que bebeu tanta ayahuasca de uma só vez que ele foi transportado para o mundo espiritual, corpo e alma, sem morrer. Folclore brasileiro.


13) Caleuche – Um grande navio fantasma que navega os mares ao redor de Chiloé (uma pequena ilha na costa do Chile) à noite. Dizem que o navio tem consciência própria. Ele é um navio branco, elegante e brilhante, três mastros com cinco velas em cada um, sempre repleto de luzes e os sons de uma festa a bordo. Ele surge mas desaparece rapidamente, sem deixar rastros. O Caleuche também consegue navegar submerso. Essa é a embarcação que os bruxos de Chiloé usam para festejar e transportar mercadorias. Ela também é usada a cada três meses, quando eles vão em uma jornada para aprimorar os seus poderes mágicos. Folclore do arquipélago Chiloé, no Chile.

14) Camahueto – Touro com um chifre na testa. Este chifre é a parte mais valiosa do animal, pois pedaços dele são plantados na terra para que cresçam novos Camahuetos. Estes surgem da terra com tanta força que deixam um grande buraco. Bruxos capturam-nos com um laço, arrancam o chifre e colocam um curativo na ferida. Os chifres são usados para curar muitos tipos de doenças. Por exemplo, pode-se raspar fragmentos deles em uma mistura de água do mar e cidra de maçã até que vire vinagre e sal. Esta poção restaura a vitalidade dos mais velhos e daqueles que são impotentes. Folclore do arquipélago Chiloé, no Chile.


15) Cão – Alguns acreditavam que cachorros podem se mover da vida para a morte e vice-versa, assim como ver as almas dos mortos. Os Incas acreditavam que almas infelizes podiam visitar as pessoas na forma de cães negros. Os Ayamaras, da Bolívia, associam cães com morte e incesto, e que as pessoas, quando morrem, devem cruzar um oceano para chegar à vida após a morte no nariz de um cão negro.

16) Capelobo – Um monstro humanoide e peludo com a cabeça de um tamanduá. Você descobre se está por perto porque o bicho grita alto. Ele gosta de comer filhotes de cachorros e gatos. Os cascos dos pés são perfeitamente redondos, então mesmo se descobrir as pegadas dele, fica difícil saber em que direção foi. As mãos tem grandes garras que são usadas para abrir o crânio de uma pessoa. Daí o Capelobo chupa o cérebro da vítima, mas, em algumas versões, prefere sugar o sangue. Folclore brasileiro.


17) Carbunclo – O tamanho dessa criatura é entre um rato e um gato. Ela tem um corpo segmentado e na forma de uma espiga de milho. Uma luz branco azulada escapa de entre os segmentos, visível a centenas de metros de distância. Além disso, o Carbunclo tem um espelho brilhante na testa. Se ele percebe um inimigo, os segmentos do seu corpo se fecham, extinguindo a luz e fazendo com que se pareça com uma pedra comum. Eu imagino o Carbunclo como uma espécie de tatuzinho gigante. Carbunclos também são capazes de pular e correr. Mineiros tentam capturá-los, porque os seus corpos segmentados contém minérios valiosos. Folclore argentino.


18) Carcancho – O Pé Grande da Patagônia. Esses hominídeos peludos vivem em solidão nas montanhas e campos, comendo tubérculos. Eles chegam a ter dois metros de altura nas montanhas, mas tem cerca de um metro de altura nas terras baixas, onde eles faziam tocas subterrâneas. As pegadas que deixavam nas neves eram as únicas pistas da sua existência.


19) Cherufe – Uma criatura maligna e humanoide, feita de pedra e lava. Dizem que ela habita as piscinas de magma dentro dos vulcões chilenos e são a causa de terremotos e erupções vulcânicas. Também dizem que os Cherufes são a origem das “pedras ardentes mágicas” (meteoritos e pedras vulcânicas incandescentes). A única maneira de diminuir o apetite por destruição do Cherufe era sacrificando uma pessoa, geralmente uma virgem, dentro da cratera do vulcão que chama de lar. Mitologia Mapuche.


20) Cuero – Uma criatura que parece uma pele de boi espichada na superfície da água. A cor costuma ser branco com preto ou manchas marrons. As bordas têm garras em forma de gancho. Existe uma segunda descrição em que os Cueros são como polvos com inúmeros olhos pequenos e quatro grandes olhos na cabeça. Alguns acham que esses monstros são almas penadas. Se uma pessoa ou animal entra na água, o Cuero se enrola em volta dela, a aperta com força e submerge para sugar o sangue da vítima no fundo do lago, rio ou mar. Depois de se alimentar, o Cuero solta o corpo da sua presa e busca uma praia isolada para se esticar e digerir. Afogamentos sem explicação são atribuídos ao Cuero. É possível matar um Cuero jogando um cacto espinhoso na água. O monstro tenta se enrolar no cacto, fica ferido e sangra até morrer. Folclore chileno.


21) Cumacanga – Cumacangas são a sétima filha da relação entre uma mulher e um padre. Isso causa uma maldição: à noite, a cabeça da cumacanga se separa do corpo, voando como uma bola de fogo e assustando pessoas. Alguns também dizem que a cabeça também morde as suas vítimas. Folclore brasileiro.


22) Cupendiepes – Uma tribo de homens-morcego que atacam as aldeias indígenas por perto à noite, usando lanças e machados para matar pessoas. A melhor maneira de enfrentá-los é achar a caverna onde eles es escondem de dia enquanto dormem, e tapar a entrada. Mitologia do povo Apinajé.


23) Curinqueãs – Tribo de gigantes, cujos lábios e narizes tem piercings dourados. Eles não são numerosos, mas os índios parecem temê-los e respeitá-los. Folclore brasileiro.


24) Deus Decapitador (não sabemos o seu verdadeiro nome) - Da civilização Moche. Metade homem, metade onça, quase sempre representado com uma "tumi", um tipo de faca sacrificial, em uma mão e a cabeça decapitada de uma pessoa sacrificada na outra. Algumas representações deste deus o mostram como uma criatura aracnídea que suga o sangue de suas vítimas.


25) Eintykára – Essas são abelhas sem ferrão cujo mel pode produzir alucinações, devido a um fungo existente nas plantas que as abelhas visitam. Mas a habilidade mais fantástica delas é que a colmeia inteira pode se unir e se transformar em um homem de pele branca como leite e cabelo tão dourado quanto o mel. A lenda conta que uma dessas colmeias se casou com uma mulher e juntos tiveram filhos. Toda a aldeia o admirava, pois ele era inteligente, trabalhador e, quando ia na floresta, se transformava de volta no enxame e ia coletar néctar. O seu corpo então produzia cera e mel, que ele distribuía entre os aldeões. Mitologia do povo Chamacoco.


26) Ehéie – Uma linda mulher com cobras venenosas no útero, que mordem o pênis de quem tem relações sexuais com ela. Aparentemente, as cobras também sugam o sangue, então a Ehéie é um tipo de vampira. Folclore argentino.


27) Ewaipanoma – Uma tribo de homens sem cabeça. Os olhos ficam nos ombros e a boca fica no peito. Um longo cabelo cresce nas suas costas. Algumas imagens deles os mostram usando arcos e flechas. Folclore venezuelano.


28) Furufuhue – Um mito diz que os ventos fortes e frios da Patagônia são causados por uma criatura gigantesca que é uma mistura de pássaro e peixe. O corpo dela é coberto por escamas brilhantes (um peixe-voador gigante?). Quase ninguém vê o Furufuhue, mas a sua canção pode ser ouvida a grandes distâncias. Folclore patagônico.


29) Goshg-e – Um monstro quadrúpede que rapta crianças à noite e devora caçadores perdidos. Ele tem um casco que é invulnerável a flechas. Alguns acreditam que o mito foi criado quando índios acharam fósseis de gliptodontes. Folclore patagônico.


30) Huaca – Os Incas acreditavam que deuses, espíritos e as almas dos ancestrais podiam se manifestar na forma de relevos geográficos como picos de montanhas, rios, fontes, cavernas e até como rochas de formatos peculiares. Tais relevos podiam ser modificados para acentuar a sua pecualiaridade e eram considerados altares com o poder de influenciar a realidade. Eles eram chamados Huacas ("wak'a"). Alguns dos Huacas eram transportados até palácios e tumbas, e, às vezes, acompanhavam expedições militares. As pessoas deixavam oferendas aos Huacas, como conchas marinhas, tecidos, coca, estatuetas, até lhamas eram sacrificadas para os Huacas. Os Quechuas acreditam que cada objeto, além da sua presença física, tem dois "Camaquen" (espíritos), um que cria o objeto e outro que o anima. Era possível invocar estes espíritos para fazer com que o objeto funcionasse. Os Incas também acreditavam que o décimo imperador Inca, Túpac Yupanqui, podia falar com os Huacas, e assim saber sobre eventos no passado e no futuro.


31) Huancahui – Também chamado de “falcão risonho” porque o seu som se parece com uma risada. Ele tem poderes mágicos e é capaz de capturar e devorar cobras ferozes. Segundo a lenda dos Iquitos, se um xamã aprende a canção do Huancahui, ele se torna capaz de dominar cobras, deixando-as impotentes e incapazes de morder alguém. Mas, se ele errar quando entoa a canção, será atacado por cobras e morrerá. Mitologia do povo Iquito.

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