quarta-feira, 15 de abril de 2020

Bestiário Sul-Americano - Parte 3 de 3

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Como que vocês vão? Eu decidi reunir e mostrar algumas das criaturas encontradas em folclores e mitologias da América do Sul. A lista tem 92 seres, então eu a dividi em três partes. Também excluí monstros brasileiros populares como o Boto e o Curupira, mas ainda assim a lista tem diversas criaturas brasileiras.


(Não estou incluindo imagens dessas criaturas por duas razões: direitos autorais e também porque algumas são tão obscuras que não encontrei imagens.)


Partes um e dois.



63) Okpe – Monstro do folclore indígena Tehuelche. Imagine um porco gigante feito de pedra. Ele não tem pontos fracos. O Okpe devora crianças, usando carne assada como isca e carregando-as em uma engenhoca no dorso selva adentro.



64) Omar – Espirito aquático com o corpo de um caranguejo e peixes gigante. Os Omars gostam de comer madeira podre, mas afundam barcos quando os confundem com troncos flutuantes. A lenda conta que um “Peaiman” (xamã ou feiticeiro) cuidadosamente enrolou dois pedaços da madeira usada para acender fogueiras, para que não ficassem úmidos. Então ele se deixou ser engolido por um Omar. O Peaiman achou muita madeira dentro da barriga do monstro, e pôs fogo nela. O Omar sentiu muita dor, subiu à superfície, arrotou o xamã e morreu. Do folclore das Guianas.



65) Onça Celeste – Mitologia Tupi-Guarani. Acredita-se que os eclipses são causados por uma onça de coloração azulada comendo o sol e a lua. Quando o mundo acabar, ela descerá ao mundo e devorará as pessoas. Até lá, ela descansa abaixo da rede de dormir de Nhanderuvuçu, o deus supremo.



66) Oroli – Uma serpente gigante das tradições das tribos Arawak, Carib e Akawais. Ela se estende entre árvores como se fosse uma ponte viva. O monstro faz com que pedaços da sua carne caiam no chão, onde eles se tornam pedaços de madeira seca, boa para fogueiras. Quem passa por baixo da Oroli, catando a madeira, é atacado. Um bando de guerreiros matou a Oroli com zarabatanas e flechas envenenadas. Em seguida incendiaram a carcaça. Das cinzas cresceram plantas, e destas eles colheram muitas “binas” (fetiches ou amuletos). As tais binas podem ser usadas para atrair todo tipo de animal, trovão, chuva e até relâmpagos.



67) Peuchen – Mitologia Mapuche. A maioria das descrições concorda que o Peuchen se parece com uma enorme serpente voadora que produz assovios estranhos, e que o seu olhar pode paralisar a presa para que ela lhe sugue o sangue.



68) Peuquen – Folclore chileno. Gnomos que se vestem em folhas da árvore “Gevuina avellana”. Eles também usam um chapéu feita da casca e um machado cuja empunhadura é da madeira desta árvore. É perigoso encontrar um Peuquen, pois quem o faz tem a sua cabeça virada pelo resto da vida. Estes gnomos gostam de ter relações com mulheres humanas. Crianças nascidas destas relações tem a pele parecida com a casca da árvore avellana.



69) Pishtaco – Folclore andino. Não me ficou claro se é um monstro parecido com um homem, ou simplesmente um homem maligno. Seja como for, quase sempre é um estranho e também um homem branco, que busca indígenas para matá-los, coletar a sua gordura e vender a sua carne. Parece haver uma relação com uma crença da época da conquista espanhola, de que certos espanhóis teriam usado a gordura extraída de índios para lubrificar as suas armas de fogo e canhões. Pishtaco é um nome que deriva da palavra quechua “pishtay”, que significa “decapitar, cortar a garganta, cortar em pedaços”.



70) Pururauca – Lenda Inca. Durante uma grande batalha decisiva, os Incas estavam em menor número e encaravam um inimigo terrível. Eles pediram a ajuda da sua maior divindade. O deus Viracocha respondeu, transformando pedras em soldados que ajudaram os Incas a defender a sua cidade.



71) Roraima – Mitologia indígena venezuelana. Esse é o nome da mãe de Makunaíma e Pia, que são heróis ou deuses que matam monstros. Eles deixam a mãe deles no topo do tepui (que significa “casa dos deuses”), que devido a isso também se chama Roraima. Isso faz ela chorar, e as suas lágrimas são tão numerosas que criam cataratas nos flancos do monte. Existem lendas que falam que os montes Roraima e Kukenam tem mares cheios de peixes e golfinhos, mas águias brancas gigantes impedem que as pessoas escalem estas montanhas. Uma outra lenda sobre o monte Roraima conta que ele é guardado por um jiboia tão imensa que ela poderia esmagar cem pessoas de uma vez.



72) Romŝiwamnari – Mitologia do povo Xerênte. Estes são demônios que habitam florestas e cavernas. Eles se parecem com grandes pássaros com pequenas asas de morcegos. Os seus bicos são como tesouras. Os Romŝiwamnari não apenas atacam os vivos, eles também devoram as almas dos mortos. Um xamã poderoso pode matá-los no reino dos mortos.



73) Sachamama (“Mãe da Floresta”) – Uma das três serpentes matriarcas da Amazônia peruana. Ela tem quarenta metros de comprimento e dois de largura, uma cabeça tal qual uma iguana e escamas semelhantes a placas de pedra. Há um bosque inteiro no seu dorso, com árvores, fungos, ervas etc. Ela não precisa se mexer porque consegue hipnotizar qualquer animal que passe por perto, para que o mesmo venha até ela e seja comido. Sachamama consegue invocar tempestades, chuva e relâmpagos. Ela também causa febres e dores de cabeça em quem invade os seus domínios. Muitas das plantas nas suas costas tem usos medicinais. Tem até uma “árvore do trovão”, cuja casca, caso engolida, permite que uma pessoa possa invoca e parar tempestades.



74) Sapo Fuerzo – Folclore chileno. Um sapo com um casco semelhante ao de uma tartaruga. Ele também brilha no escuro, tal qual um vaga-lume. O nome é devido aos seus poderes sobrenaturais e resistência. O Sapo Fuerzo pode atrair ou repelir qualquer coisa através do poder do seu olhar. Ele também consegue regenerar qualquer ferimento. A única maneira de matá-lo é reduzindo-o a cinzas por completo.



75) Enxós-de-Pedra – Uma tribo de pessoas petrificadas. Eles estão assim porque foram punidas por alguém, ou algo. Outras tribos vem até eles porque os Enxós, como o nome indica, são uma ótima matéria-prima para se fazer instrumentos como enxós (usado por carpinteiros para desbastar a madeira) e machados. Folclore da Amazônia.



76) Supay – Esse é o nome tando do deus da morte Inca, quanto de uma raça de demônios que o serve. Supays são associados aos rituais dos mineiros, talvez porque o deus em questão era o governante de Ukhu Pacha, o submundo da mitologia Inca. Após a conquista espanhola, ele foi associado ao Diabo.



77) Taquatu – Folclore da Terra do Fogo. Taquatu é um gigante invisível com uma canoa voadora igualmente invisível. Ele sequestra pessoas e as leva a lugares dos quais ninguém retorna. É dito que este monstro tem uma caverna cheia de restos humanos no topo de uma montanha que não pode ser escalada.



78) Teju Jagua – O primeiro filho de Tau e Kerana, um dos sete mosntros lendários da mitologia Guarani. Um lagarto imenso com sete cabeças de cachorro e olhos que disparam fogo. Algumas versões do mito dizem que ele tem apenas uma cabeça. Mas todas concordam que a(s) cabeça(s) faz com que tenha dificuldades em se mover. A sua aparência é a mais horrível entre todos os seus irmãos. Apesar da ferocidade, ele come frutas e o mel trazido por seu irmão Yasy Yateré. Considerado o senhor das cavernas e protetor das frutas. Também dizem que ele protege tesouros enterrados. A sua pele é brilhante devido a se rolar no ouro e pedras preciosas de Itapé.



79) Tigtitig – Folclore das Guianas. Este é um pássaro gigante que tenta devorar as almas dos recém-mortos quando elas voam na direção de uma terra paradisíaca ao oeste. A alma deve então lutar com o pássaro para evitar isto. Este pássaro também pode causar deformidades em crianças recém-nascidas. Uma lenda parecida fala de almas indo a certos lagos onde são comidas por cobras monstruosas que então as levam até um paraíso de dança e bebida. Fico agora imaginando ambas as  criaturas lutando pelas almas dos mortos.



80) Trauco – Folclore do arquipélago Chiloé. Um goblin que vive nas profundezas da floresta. Ele tem um rosto feio e pernas sem pés. Também possui um magnetismo que atrai mulheres jovens e de meia idade. Apesar disto, ele tem uma esposa, a maliciosa e feia Fiura. O Trauco carrega consigo uma machadinha de pedra que ele usa para bater em árvores na floresta, um símbolo de sua potência sexual. Quem for escolhida pelo Trauco vai até ele, é impossível resistir, mesmo se estiver dormindo. Alguns homens de Chiloé tem medo do Trauco, pois o seu olhar pode matá-los. Esta criatura é usada para explicar uma gravidez súbita ou indesejada, especialmente quando se trata de mulheres solteiras.



81) Trempulcahue – Mitologia Mapuche. Quatro anciãs se transformam em baleias a cada anoitecer, levando as almas dos mortos para “Ngill chenmaywe”, um lugar de onde as almas podem viajar até o seu local de descanso. As Trempulcahue recebiam pagamento na forma de “llancas”, pedras de turquesa.



82) Uakti – Segundo a lenda do povo Tucano, esta criatura tinha buracos no corpo que produziam música quando ele corria ou o vento passava através dele. A melodia seduziu as mulheres da tribo, então os homens queimaram e enterraram o corpo de Uakti. O mito conta que, do local onde ele foi enterrado, cresceram as palmeiras que os Tucanos usam para fazer flautas. As mulheres do povo Tucano não podem tocar nestas flautas, no entanto.



83) Warracabas – Também chamadas Waracrabas e Y'agamisheri, fazem parte do folclore das Guianas. Onças pequenas e ferozes que caçam em grupos de até cem animais. Diferente de onças comuns, não temem o fogo, embora tenham medo do latir de cachorros. Também tem aversão à água. Elas podem variar em tamanho e cor. É dito que vivem nas montanhas, indo às terras baixas quando famintas.



84) Water-mámmas – Mitologia da tribo Warrau. Um tipo de espírito que pode assumir múltiplas formas. No rio Demerara, mámmas assumem a forma de imensas araras rubras que emergem da água e carregam canoas inteiras consigo para dentro d'água, ocupantes dos barcos inclusos.



85) Onça d'Água – Mitologia Guarani. Apesar do nome, esta é uma criatura quadrúpede semelhante a um “macaco demoníaco”, com o pelo tendo a mesma pintura da onça. O monstro vive submerso, usando um imenso rabo para enroscar as pernas de pessoas que passam por perto e afogá-las. As mesmas não são devoradas, então parece que a Onça d'Água faz isto só por maldade.



86) Yaguareté-abá – Mitologia Guarani. Também chamado Capiango, é um xamã que se transforma em uma onça-pintada gigante. Vai então comer gado e cavalos, animais trazidos pelos colonizadores que invadem a sua terra. Também come carne humana. Para matar um Capiango, deve-se usar balas ou lâminas abençoadas por um sacerdote. Após a morte, a cabeça deve ser decapitada. Assim, a criatura se torna um humano sem cabeça novamente. Outra versão da lenda conta que o Capiango é uma onça possuída pela alma de um homem bom e justo que foi assassinado, podendo assim caçar a pessoa que o matou. Nesta forma animal, é tão inteligente quanto foi em vida, mas incapaz de falar.



87) Yaguarón – Um peixe verde gigante com dentes-de-sabre. Ele consegue escavar túneis sob as margens dos rios, causando deslizamentos que fazem pessoas e animais caírem na água. O Yaguarón então devora os pulmões deles.



88) Yacumama (“Mãe das Águas”) – Folclore do Equador e do Peru. Tem a forma de uma jibóia enorme, com escamas azuis e olhos brilhantes como os faróis de um barco. Ela consegue paralisar a sua presa apenas com o olhar. Quando está feliz, abençoa as pessoas com muita chuva e abundância de peixes. Quando fica furiosa, invoca tempestades, névoas e redemoinhos, além de usar os seus cinquenta metros de comprimento de maneira destrutiva. Yacumama também é capaz de engolir todos os peixes para que pescadores não consigam pegá-los, ou voar aos céus e causar chuvas torrenciais que arruinam plantações. Oferendas de comida e aguardente podem acalmá-la.



89) Yayá – Uma onça que se transforma em uma mulher. Ela vive em uma grande caverna chamada Olho d'Água. A sua presença é percebida devido ao seu canto e os tornados que surgem na região. Ela não aceita a presença de estrangeiros, deixando isto claro com um assovio que todos podem ouvir, podendo então abandonar a região ou atacar o(s) estrangeiro(s) em questão. Apenas xamãs podem acalmá-la. Ela também ataca gado. Líderes locais buscam o seu conselho em assuntos pessoais e comunitários. Yayá também pode dizer coisas sobre o passado, presente e futuro. Qualquer caverna na qual ela vive ou viveu se torna sagrada.



90) Yerupoho – Essas criaturas da mitologia Waujá tem um folclore complexo, que vou tentar resumir.


Em tempos primordiais, havia apenas escuridão. Existiam dois tipos de seres: os Yerupoho e humanos, estes últimos escondidos dentro de cupinzeiros. Em um certo dia, os Yerupoho descobriram que os heróis humanos despertariam o sol. Essa mudança súbita assustou-os, e eles passaram a criar “armaduras”: roupas, máscaras e pinturas corporais que os protegeriam do sol.  As “armaduras” eram baseadas em muitas coisas, como plantas, utensílios, animais etc. Quando o Yerupoho vestia a “armadura”, ele assumia a identidade caracterizada pela mesma, tornando-se um Apapaatai. Essa nova categoria de criatura se tornava protetora e/ou dona das coisas usadas nas suas respectivas armaduras. por exemplo, um Apapaatai cuja “armadura” incluía uma máscara de urubu se tornava um monstro tal qual um abutre humanoide de duas cabeças. Outros exemplos de Apapaatai são: cobras-barcos, peixes-flauta, araras aquáticas, onças celestiais etc. Inúmeras misturas e variações são possíveis. Os monstros são muito inteligentes, perigosos, criativos, maliciosos e muitos deles sabem usar magia. Além disso, um único Yerupoho pode usar muitas “armaduras” diferentes, adquirindo traços e poderes de acordo com o que está vestindo.


Eu escrevi acima que um certo Yerupoho é o dono e/ou protetor da coisa da qual a sua “armadura(s)” se baseia(m). Isso significa que, por exemplo, usar um certo tipo de madeira para um bote ou comer uma espécie específica de caranguejo resulta no humano invadindo o domínio de um Yerupoho. Quando isso acontece, o último causa doenças mágicas no invasor. Ou talvez tente simplesmente comer a alma do respectivo humano. As consequências práticas são a existência de muitos tabus sobre o que se pode comer ou usar da selva. O xamã é responsável por curar a doença ou salvar a alma da vítima.

Embora os Yerupoho estejam presentes em todo lugar, só podem ser vistos em sonhos, transes, quando alguém está doente ou morrendo. Máscaras, desenhos rituais e flautas são usadas para que se possa vê-los fora dessas ocasiões, porque, quando usam tais artifícios, os humanos se tornam algo similar aos Apapaatai. xamãs são capazes de convencer Apapaatai a obedecê-los ou servi-los. Isso requer quje o xamã fique doente de propósito, resistindo à doença mágica e incorporando-a. Ter servos Apapaatai traz uma série de poderes, por exemplo divinação. Esse processo de ficar doente e absorver a doença parece ser necessário para que uma pessoa torne-se um xamã. Remover doenças ou resgatar almas requer o uso de canções secretas que apenas os xamãs conhecem.

Peço desculpas se isso é meio confuso, mas tentei resumir o que é uma cosmologia única. Uma interpretação pessoal, para propósitos de rpg, é que Yerupoho são espíritos feitos de escuridão que foram forçados a criar corpos físicos (talvez construtos feitos de materiais orgânicos/naturais como folhas, ossos e argila?), os ditos Apapaatai, para que os Yerupoho não fossem destruídos pelo sol. E eles disputam com humanos o controle sobre certas plantas, animais e objetos que usam como matéria-prima para os seus corpos, criando um conflito eterno. Os xamãs, além de defenderem os humanos, poderiam ser vistos como embaixadores sobrenaturais neste contexto.



91) Xiriminja – Mitologia do povo Waimiri Atroari. São homens-peixe, mas aprece que as únicas características que os distinguem dos humanos são as membranas entre os dedos. Vivem no fundo dos rios e ensinaram os Waimiri Atroari como fazer sexo e se casar, tecer cestas, cantar, dançar e como plantar.



92) Zaori – Folclore brasileiro. Uma pessoa abençoada. Zaoris se parecem com pessoas comuns, exceto que os seus olhos brilham. Eles podem ver através de pedras, terra e até montanhas inteiras, podendo localizar tesouros escondidos. Prata e ouro, cristais, armas raras, nada escapa do olhar deles. Mas tem um porém: um Zaori não pode usar o seu poder em benefício próprio, por exemplo ficando rico, pode apenas beneficiar outras pessoas.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Bestiário Sul-Americano - Parte 2 de 3

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e9/South_America_satellite_orthographic.jpg/426px-South_America_satellite_orthographic.jpg

Como que vocês vão? Eu decidi reunir e mostrar algumas das criaturas encontradas em folclores e mitologias da América do Sul. A lista tem 92 seres, então eu a dividi em três partes. Também excluí monstros brasileiros populares como o Boto e o Curupira, mas, ainda assim, a lista tem diversas criaturas brasileiras.

(Não estou incluindo imagens dessas criaturas por duas razões: direitos autorais e também porque algumas são tão obscuras que não encontrei imagens.)

Parte um.

32) Huayramama (“Mãe dos Ventos”) – Uma das três cobras mães encontradas no folclore peruano. Uma jiboia enorme com o rosto de uma anciã e cabelo muito longo que se emaranha nas nuvens. Guardiã do ar, filha da Huayracaspi ("Árvore dos Ventos") e mãe de todos os ventos bons e ruins. Huayramama também concede poderes sobre o clima aos xamãs e curandeiros merecedores.



33) Jardim do Diabo – Os locais acreditam que um espírito maligno da floresta, chamado Chullachak, vive em nesses jardins. Dizem que ele convence as suas vítimas a segui-lo selva adentro. Ele consegue fazer isso porque se transforma em alguém que a vítima conhece ou a forma de um animal. Quando ele está disfarçado, a única forma de reconhecê-lo é através dos seus pés, que não combinam um com o outro.

Existe um fundo de verdade nessa lenda. Os Jardins do Diabo existem. Uma espécie de formiga (Myrmelachista schumanni), os cria ao sistematicamente matar todas as plantas (exceto a árvore D. hirsuta), injetando ácido nelas. Assim, a formiga cria um espaço onde apenas a hirsuta cresce, uma relação de simbiose, pois esta árvore tem espaços ocos para as formigas viverem. Um único formigueiro pode ter mais de três milhões de formigas e quinze mil rainhas. O maior Jardim do Diabo já visto tem 328 árvores e existe há oitocentos anos.



34) Icamiabas – Esse é o nome das guerreiras amazonas encontradas pelo explorador Orellana. Nativos diziam que muitas tribos davam tributos na forma de penas coloridas para elas. Cada Icamiaba valia por dez homens em uma luta e usavam arcos e flechas. As tribos servas a elas as acompanhavam em batalha, mas se um desses índios tentasse desertar, elas o matavam com golpes de clava. Icamiabas seriam altas, de pele clara e com cabelos muito longos, trançados ao redor da cabeça. Elas viviam em setenta cidades feitas de pedra com muralhas. A rainha era chamada Coñori e a terra delas tinha ouro e prata. Tanto que cinco templos, chamados caranaí, tinham as suas superfícies internas cobertas de ouro. Homens podiam visitar as cidades das Icamiabas, mas eram obrigados a sair antes do anoitecer.

Um mito associado às Icamiabas é o dos amuletos verdes chamados “Muirauitãs”. Uma vez por ano, acontecia uma cerimônia dedicada à lua. As amazonas recebiam índios Guacaris, com quem elas tinham relações em um acampamento perto do rio Nhanumdá. À meia-noite, as Icamiabas mergulhavam no rio e traziam uma argila esverdeada, que elas moldavam na forma de animais como sapos e tartarugas, e eram presos em cordões feitos com mechas de cabelo das amazonas. O resultado eram esses amuletos, que elas presenteavam aos seus amados. Estes itens eram considerados sagrados, trazendo sorte e felicidade aos seus portadores. Algumas versões dessa lenda dizem que a cerimônia acontecia em um lago encantado chamado “Jaci Uaruá”, que significa “Espelho da Lua”.



35) Ihuaivilu – Quando um grupo de xamãs da cultura Mapuche escolhem uma caverna para as suas reuniões, eles realizam um ritual para invocar um guardião chamado Ihuaivilu. Esse é um dragão com um pescoço serpentino. Ele voa usando ventanias e possui um bafo flamejante que pode incendiar campos ou bosques inteiros de uma só vez. O seu rugido é como o trovão e quando voa, deixa um rastro verde no ar.



36) Inkarri – Alguns dizem que o último imperador Inca foi decapitado, e que a sua cabeça foi enterrada. Mas ela estaria, de acordo com alguns, regenerando o seu corpo, ou, de acordo com outros, esperando para ser reunida com ele. Quando isto acontecer, o imperador ressurgirá e reconstruirá o Império Inca. Existe ainda uma versão que diz que é o corpo que está regenerando uma cabeça, pois a mesma foi levada para a Espanha.



37) Inulpamahuida (“que sobe a montanha”) – Uma árvore sem raízes, temida pelos Mapuches. Mas ela tem muitos galhos com garras, que usa para escalar montanhas.



38) Ipupiara – Um tritão canibal do foclore brasileiro. Teria pelos e bigode de gato, então pense nele como metade homem, metade leão marinho. 3,3 metros de comprimento. Para matar uma pessoa, a sufoca com um abraço. Dizem que as Ipupiaras fêmeas tinham cabelos longos e eram bonitas.



39) Irapuru – Um pássaro vermelho mágico, símbolo da felicidade. Era uma vez um jovem índio amaldiçoado por um cacique, por estar apaixonado pela filha do chefe. O índio tornou-se o Irapuru e começou uma canção linda. O cacique ouviu e foi mata adentro para capturar o pássaro, mas se perdeu e nunca mais voltou. O Irapuru canta até hoje, na esperança de que a sua paixão o ouça e o reconheça. Quem encontra esse pássaro ganha um desejo. Folclore brasileiro.           



40) Jasy Jatere – Um dos sete filhos amaldiçoados de Tau e Kerana, da mitologia Guarani. Descrito como um homem pequeno ou uma criança, cabelo loiro e olhos azuis. A sua aparência seria bonita ou até encantadora. Carrega sempre uma varinha, bengala ou cajado mágico. Ele é considerado o protetor da erva-mate, que os gaúchos usam para fazer chimarrão. Também é considerado o protetor dos tesouros por alguns. É dito que o seu poder provém do cajado, e que se alguém pegá-lo, Jasy chora como uma criança. Enquanto estiver neste estado, é possível pedir a localização de um dos tesouros que ele guarda em troca do cajado. 



41) Kaalimatu – Um pequenino homem-vespa que servia de mensageiro para “Feito-de-Ossos”, uma divindade trapaceira de índigenas venezuelanos. He ajudou esse deus a derrotar a própria Doença ao entrar na zarabatana da mesma e obstruí-la.   



42) Kanaíma – Um espírito maligno do folclore do noroeste brasileiro, que possui pessoas e as força a sofrer uma fúria assassina. Segundo alguns, tais pessoas também se transformam em animais como cobras e onças. Assassinos e pessoas buscando vinganças invocam este espírito através de drogas e rituais mágicos. O método que elas usam para matar o seu alvo é com furtividade e uma flecha envenenada. Então pense no Kanaíma como uma espécie de berserker ninja metamorfo. O folclore do Kanaíma também conta de um outro método, usando a seiva de uma certa árvore, que faz alguém ficar insano e se transformar em um animal predador. E que jogar esta seiva em alguém faz o mesmo efeito, então tome cuidado com os projéteis dos índigenas.

Algumas tribos acreditam que o Kanaíma, ou a pessoa afetada por ele, pode disparar uma flecha envenenada invisível, praticamente um projétil mágico, que deixa apenas uma marca azul no corpo da vítima. Também contam que msmo se o Kanaíma matar a sua vítima escolhida, deve visitar o cadáver três dias depois e lamber um pouco do seu sangue. Se não fizer isto, o espírito não sairá da pessoa que o invocou. Isto é importante, pois, enquanto alguém estiver possuído pelo espírito, é considerado um exilado até mesmo da sua própria tribo e família, devendo ser morto caso apareça neste estado. Como se não bastasse, esta pessoa é condenada pelo espírito à loucura, pois o mesmo não recebeu a sua oferenda de sangue da vítima.

Existe uma planta de folhas largas, a Caladium, que serve como uma espécie de alarme mágico contra Kanaímas. Quando um deles estiver por perto, a planta assobia e de alguma maneira, sacode a rede de dormir do alvo para acordá-lo.


43) Kawtcho – Espírito noturno descrito como um homem muito alto, com cabelo reto e rigído cobrindo a cabeça, um corpo musculoso, garras afiadas e um fedor tão podre que faz cachorros acordarem. É dito que ele “caminha sob o solo” durante o dia, saindo à noite para andar pelas praias, atacando pessoas pelas costas para arrancar-lhes os olhos e matá-las. O povo Alakauf, de tanto medo que tinham de atrair o Kawtcho, nunca faziam fogueiras à noite. 



44) Kiantô – Um cobra gigante colorida como o arco-íris. Ela governa um “reino da águas” que tem povos e animais distintos. Mitologia Aicanã.



45) Kori – Um tamanduá enorme que vive submerso nos rios. Ele usa as grandes garras para escavar as margens dos rios, fazendo com que desabem. Um Kori também pode causar vendavais que destroem construções e transformar terra em água para afogar pessoas. Lenda do povo Cuiva.



46) Kurupi – Um dos sete filhos monstruosos de Tau e Kerana, da mitologia Guarani. Baixinho, feio e peludo. Vive nas selvas e era considerado o lorde das floretas e protetor dos animais selvagens. A característica mais distinta do Kurupi é o seu pênis, tão longo que ele o enrolava diversas vezes ao redor da cintura. Este traço era a razão de ser reverenciado pelos Guaranis como o espírito da fertilidade. O Kurupi costuma ser a explicação para uma gravidez indesejada ou sem explicações.         



47) Lafquén Trilque – Este monstro da mitologia Mapuche é descrito como uma massa escura cuja forma lembra a pele esticada de uma vaca. Ele se move silenciosamente por rios e lagos, buscando animais e pessoas nas margens. Quando encontra uma presa, a engole por inteiro e as faz desaparecer sem deixar rastros.



48) Lakúma – Esses espíritos aquáticos são capazes de virar canoas, pegar os ocupantes e arrastá-los para dentro d'água para serem consumidos, deixando apenas as tripas flutuando na superfície. Também podem criar grandes ondas, invocar redemoinhos e tempestades que danificam embarcações maiores. Lakúmas já foram comparados a baleias, lulas e vermes gigantes, dificultando a definição de sua aparência. O que se sabe é que eles gostam de deixar os seus dorsos para fora d'água, dando a impressão de uma ilhota coberta com mexilhões maiores do que o normal. Alguns lugares podem ficar tão cheios de Lakúmas que eles podem ser usados para cruzar um lago ou rio. Lenda do povo Yamana.



49) Lluhay – Um lagarto prateado com um metro de comprimento que gosta de comer flores de batata. É difícil capturá-lo mas quem consegue adquire boa sorte. O Lluhay é imortal e raro. Certas famílias tomam conta de um deles geração após geração, como se fosse um tesouro. Folclore chileno.



50) Lucerna – Um navio fantasma. O interior é tão imenso que uma pessoa levaria a vida inteira para ir da proa à popa. O dever deste navio é carregar bruxos, as almas dos mortos e as fases da Lua. Folclore chileno.



51) Luison – Na versão original do mito, Luison foi o sétimo e último filho de Tau e Kerana. A sua aprência era humana, mas horrenda. Os seus cabelos eram tão longos que cobriam quase todo o seu corpo. A pele e olhos eram pálidos e de aparência doentia. O cheiro era fétido, de morte e podridão. O resultado era tão repulsivo que a sua mera presença gera terror em quem o encontra. Luison era o lorde da noite e associado à morte. Ele vivia em cemitérios, alimentando-se de carne podre. Alguns dizem que se o Luison passar por entre as pernas de alguém, essa pessoa se torna um Luison. Mitologia Guarani.



52) Mallki (“múmia”) – A civilização Inca mumificava muitos dos seus mortos, enterrando-os com mercadorias valiosas. Considerados um elo entre os vivos e os mortos, essas múmias eram às vezes retiradas de seus locais de descanso e consultadas em ocasiões importantes, para que o seu conhecimento e sabedoria beneficiasse os vivos. Múmias ficavam em lugares de honra, recebendo comida e bebida durante cerimônias tais quais casamentos, a  semeadura dos campos, a colheita ou quando um indivíduo da comunidade precisava fazer uma longa viagem. Incas acreditavam que a múmia do chefe ou imperador permanecia dona da propriedade que havia acumulado em vida, então existiam necrópoles com palácios inteiros abarrotados com tesouros. Cada uma destas múmias tinha um servo que interpretava os desejos da mesma e ficava a postos com um espanador. Sugiro acrescentar um pouco de fantasia e fazer com que tais múmias sejam mortos-vivos inteligentes que servem de conselheiros para os líderes dos vivos.    



53) Mapinguari – Este monstro é um enorme humanoide peludo. As suas garras poderosas arrancam partes da presa e levam estes pedaços à grande boca vertical que tem no peito. O Mapinguari tem um odor forte e nauseante. Alguns dizem que a sua pele é semelhante à de um jacaré, e igualmente resistente a balas. Folclore brasileiro.



54) Maricoxi – Nome usado para várias criaturas semelhantes a macacos vistas em muitas partes da selva sul-americana. Percy Fawcett dizia ter encontrado um grupo em 1914. Estas criaturas seriam extremamente peludas, viviam em aldeias e usavam arcos e flechas. Fawcett falou que elas se comunicavam com grunhidos e viviam ao nordeste de uma tribo chamada Maxubi.



55) Mayantu – Criatura goblinoide com o rosto de um sapo que vive na Amazônia. De acordo com a lenda dos Iquitos, o Mayantu é encontrado na copa de árvores gigantes. Ao contrário de muitos habitantes sobrenaturais da selva, ele não é maligno, chegando a ajudar pessoas quando elas tem problemas. Por isso, os Iquitos chamam o Mayantu de “o bom deus da selva”. No entanto, ele nega ajuda a quem vem destruir a selva ou os seus habitantes. Ele também conhece muitas plantas medicinais e pode usá-las para curar alguém.       



56) Mbói Tu'i – Um dos sete filhos lendários de Tau e Kerana, da mitologia Guarani. Tem a forma de uma serpente gigante com cabeça de papagaio e um grande bico. Também possui uma língua bifurcada da cor do sangue. A pele é escamosa e raiada, mas a cabeça é coberta de penas. O seu olhar amedronta pessoas. Ele protege os pântanos e os anfíbios, e gosta de umidade e flores. O Mbói Tu'i pode urrar um forte grasnido que pode ser ouvido de longe e gera terror em quem o ouve.



57) Minhocão – Descrito como uma criatura serpentina imensa e subterrânea, que causa muita destruição ao fazer túneis. É dito que ele é anfíbio, capaz de viver na água. Um registro fala dele derrubando árvores tão facilmente quanto uma pessoa cortando grama, mudando os cursos dos rios e transformando terras secas em pântanos sem fundo, tudo devido às suas escavações. Pode ser que o Minhocão não seja literalmente uma minhoca gigante, mas um tipo de dipnoico ou caecílio. Folclore brasileiro.



58) Moñái – Terceiro filho de Tau e Kerana e um dos sete monstros lendários da mitologia Guarani. Possui um enorme corpo de cobra e dois chifres coloridos sobre a cabeça, que lhe servem de antenas. Ele é o lorde dos campos abertos. É capaz de subir e descer árvores com facilidade. Se alimenta de pássaros que hiptoniza com os poderes dos seus chifres. Isto faz com que seja chamado “Lorde do Ar”. Moñái gosta de roubar e esconder o que rouba em uma caverna. Apesar do tamano que tem, consegue fazer isso tão furtivamente que as pessoas das aldeias próximas não o descobrem, e ficam acusando umas às outras pelo desaparecimento das suas coisas.



59) Motelo Mama – Uma tartaruga tão gigantesca que o seu casco tem um bosque inteiro. Quando ela se move o chão treme, mas isto quase mnunca acontece, pois ela é capaz de ficar parada durante séculos. Motelo é a mãe de todas as tartarugas Alguns dizem que ela sempre existiu e sempre existirá. Folclore chileno.




60) Muki – Um tipo de goblin com sessenta centímetros de altura. Mukis são mineiros e vivem embaixo da terra. Apesar do tamanho, são fortes. As vozes deles são roucas, o cabelo é longo e loiro, o mrosto é peludo e avermelhado, e a barba é branca. A pele é pálida e eles carregam uma lanterna. Alguns falam que eles tem orelhas pontudas. O olhar deles é agressivo e hipnótico, os olhos refletem a luz como se fossem feitos de metal. Em algumas das tradições de mineiros, os Mukis tem dois chifres que eles usam para quebrar rochas. Os anciões aconselham que ao lidar com um Muki, deve-se enfrentá-lo com um cinto, sem sucumbir ao medo. Eles podem ser encontrados em grupos, mas preferem viver sozinhos. O seu mundo é um de escuridão eterna. Mukis podem fazer veios de minérios surgir e desaparecer, sentir as emoções dos mineiros e amolecer ou endurecer a rocha. Às vezes, fazem pactos com mineiros. Gostam de pessoas discretas e honestas, que mantém as suas promessas e o pacto um segredo.  Folclore peruano.    



61) Negro d'Água – Se você está em um barco no rio São Francisco, pode ouvir uma risada. A mesma voz logo lhe pedirá um peixe. Se você recusar, o seu barco será virado. Alguns pescadores podem carregar uma garrafa de cachaça para jogar na água ao invés do peixe. As criaturas que fazem isto são humanoides de pele escamosa e escura, carecas e cujas mãos e pés são como as patas de patos. Eles também fazem buracos em redes, assustam pessoas perto da água e outras travessuras. Algumas versões da lenda incluem garras, e que se você conseguir cortar fora uma delas, o Negro d'Água precisa fazer algo para você se quiser a garra de volta.



62) Nguruvilu – Um animal aquático parecido com uma raposa, mas o rabo é longo e termina em unhas que ele usa como se fossem garras. Nguruvilus são a causa de redemoinhos que matam pessoas que tentam cruzar rios. Quando eles estão por perto, a única maneira segura de atravessar a água é usando um barco. E para se livrar destes monstros, é preciso contratar um xamã ou bruxo, dando-lhes presentes em troca pelo serviço. Mitologia Mapuche.


quarta-feira, 8 de abril de 2020

Bestiário Sul-Americano - Parte 1 de 3

                        https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e9/South_America_satellite_orthographic.jpg/426px-South_America_satellite_orthographic.jpg

Como que vocês vão? Eu decidi reunir e mostrar algumas das criaturas encontradas em folclores e mitologias da América do Sul. A lista tem 92 seres, então eu a dividi em três partes. Também excluí monstros brasileiros populares como o Boto e o Curupira, mas ainda assim a lista tem diversas criaturas brasileiras.


(Não estou incluindo imagens dessas criaturas por duas razões: direitos autorais e também porque algumas são tão obscuras que não encontrei imagens.)



1) Abaçaí – Um tipo de Pã indígena. Um espírito que força alguém a dançar e cantar. Ele possui a pessoa, levando-a a um transe festivo. O Abaçaí também consegue se transformar em qualquer animal, pessoa ou objeto. Mitologia Tupi.

2) Abúhukü – Monstros noturnos que personificam doença, morte e outros males. Eles são associados às almas de envenenadores, assassinos e adúlteros. Eles também tem um rosto extra na nuca e corpos grudentos que impossibilitam que se escape dos seus abraços. Um Abúhukü faz um buraco no crânio da vítima e suga o interior dela através dele. Sobra apenas uma pele vazia pendurada em um galho. Os Abúhukü já foram numerosos e aliados com onças malignas, cooperando para dizimar humanos. A humanidade teve uma trégua após uma série de enchentes e incêndios reduzirem os números de ambos os predadores. Mitologia do povo Cubeo.


3) Ajaklalhay – Uma tribo de homens-pássaro. A lenda conta que conforme o número de tribos humanas, divindades e xamãs cresceu, esses seres sentiram que o seu valor diminuiu. Eles decidiram se jogar em uma enorme fogueira, e dela renasceram como inúmeros pássaros comuns. Mas nem todos fizeram isso, alguns ainda existiriam. Os Ajaklalhay sabiam como falar com animais, convocar tempestades, invocar relâmpagos e ventanias. Mitologia do povo Nivaclé.


4) Alicanto – Pássaros que trazem sorte a mineiros porque eles comem ouro e prata. Se o mineiro consegue seguir o Alicanto sem ser descoberto, pode achar aonde ele encontra esses metais preciosos. Mas, se o Alicanto percebe que está sendo seguido, ele guia o mineiro ganancioso até um penhasco ou ravina e faz com que a pessoa caia e morra. Alicantos que comem prata são prateados e Alicantos que comem ouro são dourados. Os ninhos deles são perto de colinas e cavernas. Um registro que eu encontrei sobre os Alicantos dizia que eles são pesados demais para voar, tem pernas longas com garras e um bico curvo. Folclore chileno.


5) Amaru (“cobra”) – Uma gigantesca cobra de duas cabeças, que eu considero como o equivalente andino do dragão europeu. No que parece ser a lenda original, a Amaru é petrificada, e aldeões usavam o pó desse corpo petrificado para curar doenças e ferimentos. A Amaru é associada ao submundo, a terra e terremotos, os últimos causados por ela quando se move pelas profundezas da terra. Alguns registros falam que existe mais de uma Amaru. Após os Incas serem conquistados e a região ser influenciada pela cultura espanhola, a Amaru ganhou aspectos de dragões europeus, por exemplo asas e patas. Mitologia Inca.


6) Anchimayen – Descritos como pequenas criaturas que se parecem com crianças. Anchimayen podem se transformar em esferas voadoras brilhantes. Elas servem aos Kalkus (um tipo de feiticeiro do folclore Mapuche), e são criadas a partir dos cadáveres de crianças. Não me ficou claro se elas são as mesmas criaturas que os Anchimallén, que é um tipo de anão canibal que vive em cavernas, joga pedras nas pessoas e usa lanças. Pode ser que a lenda tenha mudado com o tempo como todas as lendas fazem. Mitologia Mapuche.


7) Andurá – Uma árvore que fica flamejante à noite, sem sofrer qualquer queimadura. Parece interessante como um ponto de referência geográfico, entidade sagrada ou uma fonte de fogo para uma tribo. Mitologia Tupi-Guarani.

8) Anhanguá – Um espírito que protege animais, especialmente as fêmeas e filhotes. Pode haver mais de um. Geralmente surge como um cero branco de olhos vermelhos, mas pode assumir qualquer forma. Por exemplo, uma história fala de um índio que torturou um filhote para que os gritos atraíssem a mãe do mesmo. Quando essa mãe veio, o índio a matou. Foi aí que a mãe do filhote se mostrou ser uma ilusão do Anhanguá, e na verdade o índio matou a própria mãe. Mitologia Tupi.

9) Ao Ao – Uma das criaturas mais importantes da mitologia Guarani, um dos sete filhos amaldiçoados de Tau e Kerana. É descrito como um monstro voraz semelhante a uma ovelha com um conjunto enorme de dentes. Outros o descrevem como um grande porco-do-mato carnívoro. O nome é derivado do barulho que faz quando persegue as suas vítimas, "ao ao ao!". Ele só come humanos. O Ao ao original possui grandes poderes reprodutivos e é às vezes identificado como a divindade Guarani da fertilidade. Ao ao gerou muitos filhos amaldiçoados da mesma forma. De acordo com a maioria das versões do mito, quando ele localiza uma pessoa para comer, a persegue por qualquer distância sobre qualquer terreno, só parando quando a pega. Se a pessoa escala uma árvore, O Ao ao vai escavar as raízes até ela cair. A única árvore que oferece abrigo contra o Ao ao é a palmeira. Subindo em uma, ele desiste por alguma razão.

10) Apu ("senhor") – Cada montanha dos Andes teria um espírito desses, protegendo os nativos locais. Certas rochas e cavernas também teriam um Apu. Mitologia Inca.

11) Boraro – O nome de uma versão mais monstruosa do Curupira. Ele tem pés voltados para trás, é tão alto quanto uma árvore, grandes presas e genitais. Existe um mito a respeito da pele vermelha do Boraro, que ele tira quando vai nadar ou pescar. Um homem vestiu essa pele, e a mesma passou a controlar quem a vestiu. Ela levou o homem a cometer atos malignos: matar e comer o Boraro, além de ir até a casa do mesmo e tomar o seu lugar. Depois de alguns anos ele voltou para a sua tribo original e contou essa história. Mitologia do povo Tucano.

12) Caboclinho do Mato – Um homem pequenino que vive no mato. Ele é um dos espíritos que ensina aprendizes de xamã. O Caboclinho era um homem comum que bebeu tanta ayahuasca de uma só vez que ele foi transportado para o mundo espiritual, corpo e alma, sem morrer. Folclore brasileiro.


13) Caleuche – Um grande navio fantasma que navega os mares ao redor de Chiloé (uma pequena ilha na costa do Chile) à noite. Dizem que o navio tem consciência própria. Ele é um navio branco, elegante e brilhante, três mastros com cinco velas em cada um, sempre repleto de luzes e os sons de uma festa a bordo. Ele surge mas desaparece rapidamente, sem deixar rastros. O Caleuche também consegue navegar submerso. Essa é a embarcação que os bruxos de Chiloé usam para festejar e transportar mercadorias. Ela também é usada a cada três meses, quando eles vão em uma jornada para aprimorar os seus poderes mágicos. Folclore do arquipélago Chiloé, no Chile.

14) Camahueto – Touro com um chifre na testa. Este chifre é a parte mais valiosa do animal, pois pedaços dele são plantados na terra para que cresçam novos Camahuetos. Estes surgem da terra com tanta força que deixam um grande buraco. Bruxos capturam-nos com um laço, arrancam o chifre e colocam um curativo na ferida. Os chifres são usados para curar muitos tipos de doenças. Por exemplo, pode-se raspar fragmentos deles em uma mistura de água do mar e cidra de maçã até que vire vinagre e sal. Esta poção restaura a vitalidade dos mais velhos e daqueles que são impotentes. Folclore do arquipélago Chiloé, no Chile.


15) Cão – Alguns acreditavam que cachorros podem se mover da vida para a morte e vice-versa, assim como ver as almas dos mortos. Os Incas acreditavam que almas infelizes podiam visitar as pessoas na forma de cães negros. Os Ayamaras, da Bolívia, associam cães com morte e incesto, e que as pessoas, quando morrem, devem cruzar um oceano para chegar à vida após a morte no nariz de um cão negro.

16) Capelobo – Um monstro humanoide e peludo com a cabeça de um tamanduá. Você descobre se está por perto porque o bicho grita alto. Ele gosta de comer filhotes de cachorros e gatos. Os cascos dos pés são perfeitamente redondos, então mesmo se descobrir as pegadas dele, fica difícil saber em que direção foi. As mãos tem grandes garras que são usadas para abrir o crânio de uma pessoa. Daí o Capelobo chupa o cérebro da vítima, mas, em algumas versões, prefere sugar o sangue. Folclore brasileiro.


17) Carbunclo – O tamanho dessa criatura é entre um rato e um gato. Ela tem um corpo segmentado e na forma de uma espiga de milho. Uma luz branco azulada escapa de entre os segmentos, visível a centenas de metros de distância. Além disso, o Carbunclo tem um espelho brilhante na testa. Se ele percebe um inimigo, os segmentos do seu corpo se fecham, extinguindo a luz e fazendo com que se pareça com uma pedra comum. Eu imagino o Carbunclo como uma espécie de tatuzinho gigante. Carbunclos também são capazes de pular e correr. Mineiros tentam capturá-los, porque os seus corpos segmentados contém minérios valiosos. Folclore argentino.


18) Carcancho – O Pé Grande da Patagônia. Esses hominídeos peludos vivem em solidão nas montanhas e campos, comendo tubérculos. Eles chegam a ter dois metros de altura nas montanhas, mas tem cerca de um metro de altura nas terras baixas, onde eles faziam tocas subterrâneas. As pegadas que deixavam nas neves eram as únicas pistas da sua existência.


19) Cherufe – Uma criatura maligna e humanoide, feita de pedra e lava. Dizem que ela habita as piscinas de magma dentro dos vulcões chilenos e são a causa de terremotos e erupções vulcânicas. Também dizem que os Cherufes são a origem das “pedras ardentes mágicas” (meteoritos e pedras vulcânicas incandescentes). A única maneira de diminuir o apetite por destruição do Cherufe era sacrificando uma pessoa, geralmente uma virgem, dentro da cratera do vulcão que chama de lar. Mitologia Mapuche.


20) Cuero – Uma criatura que parece uma pele de boi espichada na superfície da água. A cor costuma ser branco com preto ou manchas marrons. As bordas têm garras em forma de gancho. Existe uma segunda descrição em que os Cueros são como polvos com inúmeros olhos pequenos e quatro grandes olhos na cabeça. Alguns acham que esses monstros são almas penadas. Se uma pessoa ou animal entra na água, o Cuero se enrola em volta dela, a aperta com força e submerge para sugar o sangue da vítima no fundo do lago, rio ou mar. Depois de se alimentar, o Cuero solta o corpo da sua presa e busca uma praia isolada para se esticar e digerir. Afogamentos sem explicação são atribuídos ao Cuero. É possível matar um Cuero jogando um cacto espinhoso na água. O monstro tenta se enrolar no cacto, fica ferido e sangra até morrer. Folclore chileno.


21) Cumacanga – Cumacangas são a sétima filha da relação entre uma mulher e um padre. Isso causa uma maldição: à noite, a cabeça da cumacanga se separa do corpo, voando como uma bola de fogo e assustando pessoas. Alguns também dizem que a cabeça também morde as suas vítimas. Folclore brasileiro.


22) Cupendiepes – Uma tribo de homens-morcego que atacam as aldeias indígenas por perto à noite, usando lanças e machados para matar pessoas. A melhor maneira de enfrentá-los é achar a caverna onde eles es escondem de dia enquanto dormem, e tapar a entrada. Mitologia do povo Apinajé.


23) Curinqueãs – Tribo de gigantes, cujos lábios e narizes tem piercings dourados. Eles não são numerosos, mas os índios parecem temê-los e respeitá-los. Folclore brasileiro.


24) Deus Decapitador (não sabemos o seu verdadeiro nome) - Da civilização Moche. Metade homem, metade onça, quase sempre representado com uma "tumi", um tipo de faca sacrificial, em uma mão e a cabeça decapitada de uma pessoa sacrificada na outra. Algumas representações deste deus o mostram como uma criatura aracnídea que suga o sangue de suas vítimas.


25) Eintykára – Essas são abelhas sem ferrão cujo mel pode produzir alucinações, devido a um fungo existente nas plantas que as abelhas visitam. Mas a habilidade mais fantástica delas é que a colmeia inteira pode se unir e se transformar em um homem de pele branca como leite e cabelo tão dourado quanto o mel. A lenda conta que uma dessas colmeias se casou com uma mulher e juntos tiveram filhos. Toda a aldeia o admirava, pois ele era inteligente, trabalhador e, quando ia na floresta, se transformava de volta no enxame e ia coletar néctar. O seu corpo então produzia cera e mel, que ele distribuía entre os aldeões. Mitologia do povo Chamacoco.


26) Ehéie – Uma linda mulher com cobras venenosas no útero, que mordem o pênis de quem tem relações sexuais com ela. Aparentemente, as cobras também sugam o sangue, então a Ehéie é um tipo de vampira. Folclore argentino.


27) Ewaipanoma – Uma tribo de homens sem cabeça. Os olhos ficam nos ombros e a boca fica no peito. Um longo cabelo cresce nas suas costas. Algumas imagens deles os mostram usando arcos e flechas. Folclore venezuelano.


28) Furufuhue – Um mito diz que os ventos fortes e frios da Patagônia são causados por uma criatura gigantesca que é uma mistura de pássaro e peixe. O corpo dela é coberto por escamas brilhantes (um peixe-voador gigante?). Quase ninguém vê o Furufuhue, mas a sua canção pode ser ouvida a grandes distâncias. Folclore patagônico.


29) Goshg-e – Um monstro quadrúpede que rapta crianças à noite e devora caçadores perdidos. Ele tem um casco que é invulnerável a flechas. Alguns acreditam que o mito foi criado quando índios acharam fósseis de gliptodontes. Folclore patagônico.


30) Huaca – Os Incas acreditavam que deuses, espíritos e as almas dos ancestrais podiam se manifestar na forma de relevos geográficos como picos de montanhas, rios, fontes, cavernas e até como rochas de formatos peculiares. Tais relevos podiam ser modificados para acentuar a sua pecualiaridade e eram considerados altares com o poder de influenciar a realidade. Eles eram chamados Huacas ("wak'a"). Alguns dos Huacas eram transportados até palácios e tumbas, e, às vezes, acompanhavam expedições militares. As pessoas deixavam oferendas aos Huacas, como conchas marinhas, tecidos, coca, estatuetas, até lhamas eram sacrificadas para os Huacas. Os Quechuas acreditam que cada objeto, além da sua presença física, tem dois "Camaquen" (espíritos), um que cria o objeto e outro que o anima. Era possível invocar estes espíritos para fazer com que o objeto funcionasse. Os Incas também acreditavam que o décimo imperador Inca, Túpac Yupanqui, podia falar com os Huacas, e assim saber sobre eventos no passado e no futuro.


31) Huancahui – Também chamado de “falcão risonho” porque o seu som se parece com uma risada. Ele tem poderes mágicos e é capaz de capturar e devorar cobras ferozes. Segundo a lenda dos Iquitos, se um xamã aprende a canção do Huancahui, ele se torna capaz de dominar cobras, deixando-as impotentes e incapazes de morder alguém. Mas, se ele errar quando entoa a canção, será atacado por cobras e morrerá. Mitologia do povo Iquito.